domingo, 15 de dezembro de 2019

Tudo como dantes na terra de Abrantes. Fracassou a COP25 de 2019. Deve-se dar ainda mais importância à Adaptação



Terminou a Conferência COP25 de 2019 que esteve sob dramática pressão por medidas que evitassem um Apocalipse previsto pelos ativistas do clima, pelo contínuo agravamento do processo de Aquecimento Global. Fazendo parte do processo de pressão teve grande significação o desempenho dramático da estudante Greta Thunberg, noticiado no mundo, a jovem que resolveu faltar às aulas para chamar a atenção sobre a necessidade do mundo conter o Aquecimento Global, para o que seria necessário uma radical mudança do modo de vida e das aspirações de consumo de todos os povos, bem como dos modos de produção ora adotados. Agências de notícias, como se sabe, selecionam fatos os tornando notícia, conforme as preferências que atribuem a seus clientes.

Vejamos o que dizem as agências de notícias nas horas que seguiram ao anúncio do resultado da COP25 deste ano de 2019.

Por ordem alfabética da designação das agências escolhidas temos:

AlJazeera, relacionada a interesses árabes, traz direta menção a não ter havido acordo que beneficiasse, como esperado, o mercado de créditos de carbono (Longest UN climate talks end with no deal on carbon markets);

BBC, expressão já multisecular britânica como agência de notícias independente, anuncia que a reunião resultou, sob um foco mais amplo, num acordo aquém do esperado (COP25: Longest climate talks end with compromise deal).

CNN, a inovadora agência de notícias televisiva norte-americana prefere até o momento da redação desta nota se referir não ao resultado da COP25, mas ao tema trazido por um guerreiro do clima africano, Nkosi Nyathi, um estudante ativista do clima africano de 16 anos de idade, já com 6 anos de ativismo, que tem tido uma pequena divulgação mundial e que expõe ao mundo a dramática situação em que se encontra parte da África face a uma devastadora seca, com consequências de potencial de grande mortalidade, pela fome, de uma larga fração da África outrora muito produtiva do ponto de vista agrícola (If the climate stays like this, we won't make it' say those on the frontline of Africa's drought);

FoxNews, também norte-americana, preferiu, até o momento em estas linhas são escritas, expor uma nova proposta de ação da própria ativista Greta Thunberg, antecipando uma pausa no ativismo e se colocando um “desculpe por qualquer coisa” dirigido aos dirigentes mundiais (Greta Thunberg apologizes for 'against the wall'remark, plans a break from climate activism);

Tass Russian News Agency ignora a COP25 e traz como primeira notícia uma questão do duelo russo norte-americano de espionagem eletrônica (Russian warship tracks movements of US Navy destroyer in Black Sea); e

Xinhuanet, a agência chinesa também ignora, em seu destaque como informação exposta em português, o resultado da COP25, preferindo expor a mensagem de felicitação à reeleição do primeiro ministro britânico (Premiê chinês envia mensagem de felicitações a Johnson por reeleição como primeiro-ministro britânico).

Os jornais também seguem o mesmo tom, deixando de lado o resultado da pré-apocalíptica COP25 de 2019, em troca por notícias nacionais não relacionadas a perigos para continuação da experiência humana na Terra. Vejamos, também por ordem alfabética, uma seleção de jornais:

ElClarín, da Argentina, tem como destaque internacional a atenção do ritual católico praticado pelas almas dos passageiros e tripulantes de um avião da Força Aérea Chilena que se dirigia à base chilena da Antártida e colidiu com o mar, “Chile despidió con dos misas a los muertos en el accidente aéreo del Hércules C-130”;


El Mundo, de Espanha, traz como destaque internacional, acompanha a agência de notícia chinesa, em sua atenção ao Brexit: “Johnson asegura que el Reino Unido se ha embarcado en una maravillosa aventura”;

El Universal, de México, ignora o resultado da COP25 e destaca o acordo de comércio com os Estados Unidos eu Canadá; “T-MEC “no tiene letras chiquitas,” asegura Jesús Seade”;

Global Times, da China, prefere dar destaque a uma reunião para promover o desenvolvimento asiático: “Media delegates in 10+3 framework discuss how to build a prosperous Asia”;

Le Monde, francês, comenta, na área específica de “Planeta”, os avanços “quase insignificantes” da anunciada como salvadora do apocalipse COP25 de 2019:La COP25 s’achève sur des avancées quasi insignifiantes dans la lutte contre le changement climatique;

The Financial Express, de Bangladesh, um dos países a ser mais prejudicado, intensa e extensamente, pelos efeitos do Aquecimento Global, dá destaque a que “Greta apologises for ‘put leaders against the wall’ comment”;

The Indian Express, hindu, dirige-se ao resultado da esperada COP25, expondo-o como um fracasso, “Longest UN climate talks end with no deal on carbon markets”;

The Guardian, britânico, prefere dar mais valor aos problemas vividos atualmente pelos habitantes da saudosa colônia:Hong Kong violence breaks out again in shopping centres”;

The New York Times, sempre crítico da posição do atual governo norte-americano face a não dar a devida importância às Mudanças Climáticas tem como principal manchete, caracterizada pelo uso de letras de maior tamanho, não o resultado da COP25, mas “Prime Leverage: How Amazon Wields Power in the Technology World”.

Ou seja, agências de notícias, televisivas ou não, e os jornais, não dão, como fração quantitativa do conjunto, maciça importância ao fiasco representado pela COP mais esperada como salvadora da humanidade. A maior parte prefere dar mais importância a ocorrências locais ou regionais, algumas até relativas a “business as usual”, uma atitude que se esperava ser radicalmente condenada pela COP25. Pelo sim, pelo não, pode-se concluir que a COP25, além de não dar a devida atenção à questão da Adaptação ao Aquecimento Global, deixa cruelmente a cada país, subdesenvolvido como seja, a grande parte do esforço econômico para esta Adaptação, estes países que mal podem prover ambiente para a mera subsistência de parte de seu povo, mesmo que os efeitos maléficos do Aquecimento ainda sejam mais significativos. A mídia, que fareja a base de sustentação das opiniões que as sociedades têm, entende que os temores dos representantes dos governos sobre o futuro não são compartilhadas pelos destinatários de suas notícias e de suas análises. Reforça-se, assim, a necessidade de cuidar da Adaptação, principalmente por parte dos países onde os efeitos maléficos do Aquecimento são mais agudos.



AlJazeera. Longest UN climate talks end with no deal on carbon markets. Doha, Catar. Disponível em: https://www.aljazeera.com/news/2019/12/climate-talks-limp-finish-line-consensus-191215084746518.html. Acesso em: 15 dez., 2019.

El Clarin.  Chile despidió con dos misas a los muertos en el accidente aéreo del Hércules C-130. Buenos Aires. Disponível em: https://www.clarin.com/mundo/chile-despidio-misas-muertos-accidente-aereo-hercules-c-130_0_WHUtqwPJ.html. Acesso em: 15 dez., 2019.

El Universal.  T-MWC "no tiene letras chiquitas", asegura Jesús Seade. Cidade do México. Disponível em: https://www.eluniversal.com.mx/nacion/t-mec-no-tiene-letras-chiquitas-asegura-jesus-seade. Acesso em:: 15 dez., 2019. 

FE - The Financial Express. Greta apologises for 'put leaderis agains the wall' comment. Dahka. Disponível em: https://thefinancialexpress.com.bd/world/greta-apologises-for-put-leaders-against-the-wall-comment-1576401631. Acesso em: 15 dez., 2019.

FRESNEDA, Carlos. Boris Johnson asegura que el Reino Unido se embarcado "en una maravillosa aventura" con el Brexit. Em: El Mundo. Madrid. Disponivel em: https://www.elmundo.es/internacional/2019/12/14/5df518e7fdddffc7078b45d5.html. Acesso em 15 dez., 2019.

GARRIC, Audrey. La COP25 s'achève sur des avancee quasi insignificantes dans la lutte contre le changement climatique. Em: Le Monde. Paris. Disponível em: https://www.lemonde.fr/planete/article/2019/12/15/climat-la-cop25-s-acheve-par-un-accord-depourvu-d-avancees-globales-significatives_6022942_3244.html. Acesso em: 15 dez., 2019.


HAN, Zhang. Media delegates in 10+3 framework discuss how to build a prosperous Asia. Global Times. Pequim. Disponível em: https://www.globaltimes.cn/content/1173597.shtml. Acesso em: 15 dez., 2019.
  
COP25: Longest climate talks end with compromise deal. Em: BBC. Londres, 15.12.2019. Disponível em: https://www.bbc.com/news/science-environment-50799905. Acesso em: 15 dez., 2019.

McKENZIE, David;  SWAILS, Brent Swails. If the climate stays like this we won't make it say those on the frontline of Africa's drought. Em: CNN. Atlanta, 14.12.2019. Disponível em: https://edition.cnn.com/2019/12/14/africa/climate-change-southern-africa-intl/index.html. Acesso em: 15 dez., 2019.

Tass Russian News Agency. Russian warship tracks movements of US Navy destroyer in Black Sea. Moscou, Russia. Disponível em: https://tass.com/defense/1099561. Acesso em: 15 dez., 2019. 

The Guardian. Hong Kong violence breaks out again in shopping centres. Londres. Disponível em: https://www.theguardian.com/world/2019/dec/15/hong-kong-violence-breaks-out-again-in-shopping-centres. Acesso em: 15 dez., 2019.


The Indian Express. Longest UN climate talks end with no deal on carbon markets. Noida, Uttar Pradesh, India. Disponível em: https://indianexpress.com/article/world/longest-un-climate-talks-end-with-no-deal-on-carbon-markets-6168469/. Acesso em: 15 dez., 2019.
WALLACE, Danielle.Greta Thunberg apologizes for 'against the wall' remark, plans a break from climate activism. Em: Fox News, Nova Iorque, 15.12.2019. Disponível em: https://www.foxnews.com/world/greta-thunberg-apologizes-against-the-wall-break-global-activism-time-person-of-year. Acesso em: 15 dez., 2019.

WAKABAYASHI, Daisuke. Prime Levarge: How Amazon Wields Power in the Technology World. Em The New York Times. Nova Iorque. dISPONÍVEL EM: https://www.nytimes.com/2019/12/15/technology/amazon-aws-cloud-competition.html?action=click&module=Top%20Stories&pgtype=Homepage. Acesso em: 15 dez., 2019.   

Xinhua News. Premiê chinês envia mensagem de felicitações a Johnson por reeleição como primeiro-ministro britânico. Disponível em:  http://portuguese.xinhuanet.com/2019-12/15/c_138632979.htm. Acesso em 15 dez.,2019.

 

Obs.: Esta postagem representa um esforço voluntário dos mantenedores do Blog dedicado principalmente às comunidades, estados e nações, que pouco contribuíram historicamente às Mudanças Climáticas e são chamados a contribuir significativamente com os esforços para mitigar as causas destas Mudanças. Se o texto contribui a este objetivo, em sua avaliação, sugerimos contribuir a divulgá-lo. 


 

quinta-feira, 12 de dezembro de 2019

Usinas Hidrelétricas Reversíveis versus Usinas Termo Nucleares



Há, em alguns países, a visão de que o esforço para redução da emissão de gases provocadores de Efeito Estufa oferece uma oportunidade impar para retomada da construção de reatores nucleares de potência visando à produção de energia elétrica limpa das tais emissões.

Neste sentido houve um debate no passado 6 de dezembro, em Recife, Brasil, propiciado pela Academia Pernambucana de Ciências sobre uma proposta de implantação de um reator nuclear no município de Itacuruba, nas margens da represa de Itaparica, no Rio São Francisco a cerca de 300 km de sua Foz. A sessão foi aberta ao público que atendeu ao seu anúncio, tendo ocorrido no Espaço Ciência, um museu de ciência desenhado para complementar a educação científica do sistema formal de ensino básico e médio, simbolicamente instalado num ponto entre Recife e Olinda, de vital importância no nascer da colônia Brasil e que, construido em um mangue, será, infelizmente, uma das primeiras áreas no Brasil a ser inundada pela inexorável subida do nível do mar.

O Brasil possui duas usinas nucleares de produção de energia elétrica no Sudeste, em atividade em Angra dos Reis e uma terceira em construção no mesmo parque. Satisfazem elas, o que o Brasil precisa de domínio de conhecimento sobre energia nuclear a partir do uso da energia nuclear para fins de produção de energia elétrica, imprescindível a um país da dimensão do Brasil. A imprescindibilidade de energia de origem nuclear ser ampliada com a instalação de outros reatores foi debatida sob a arguição de que as ampliações de capacidade de geração recentes no país são proporcionadas por energia de fonte eólica e de fonte solar, pela via do uso dos painéis fotovoltaicos. Essas duas fontes têm descontinuidades.

As turbinas eólicas são imprevisíveis, dado a necessidade de uma velocidade mínima do vento. A energia fotovoltaica só é gerada durante os períodos de insolação. Um expositor colocou as nuvens como interrompendo da produção de energia das células fotovoltaicas. De fato as nuvens reduzem a eficiência da produção de energia elétrica das células. Certos tipos de nuvens podem até zerar a produção. Indiscutivelmente a produção tem um componente de aleatoriedade, além da ciclicidade diária de mais da metade do dia sem produção de energia.

A potência firme da usina termonuclear independendo das condições climáticas e do horário, faz vista como indispensável esta fonte de energia na matriz elétrica para garantir estabilidade da rede. Pelo tom dos debates estando esgotada a disponibilidade para expansão da energia hidrelétrica, a alternativa à energia nuclear, como fonte firme, contínua, seria apenas as fontes termelétricas de origem fóssil.

É interessante registrar que o debate passou ao largo de alternativas ao uso de reatores nucleares para resolver o problema de estabilidade da rede e de oferta independente de condições de vento e da ciclicidade da  incidência dos raios solares. Foi implicitamente colocado, se resolve o problema da descontinuidade das fontes eólica e solar de energia elétrica com a instalação de usinas termonucleares ou, usa-se fonte fóssil, hoje indesejável pelos seus rebatimentos no agravamento do Aquecimento Global. A energia nuclear, surge como uma fonte indispensável. Mas não haverá mesmo alternativa, ou estará sendo esquecida?

Visando enriquecer o debate, insere-se aqui uma alternativa. Trata-se de gerar energia elétrica no montante suficiente para acumular energia potencial hidrelétrica, possibilitando gerar a energia elétrica suficiente requerida durante o período de indisponibilidade de fontes renováveis. Isto é conseguido em usinas hidrelétricas reversíveis, uma multisecular ideia posta em prática já nos anos 1890. Nos anos 1930 já era disponível para uso comercial, uma turbina capaz de funcionar como motor para o gerador acionado pela turbina, funcionando ela também como bomba para elevação da água, movida pelo motor elétrico em que se converte o gerador.

Água é bombeada de um reservatório de menor cota para um de cota mais elevada. Posteriormente é usada para gerar energia elétrica, enquanto retorna do reservatório de cota mais elevada para o de menor cota. O ciclo de que se está tratando é diário no que concerne a suprir o período diário de não geração de energia elétrica em painéis solares. Deve se considerar um componente adicional para suprir deficiência de geração de energia elétrica em turbinas eólicas devido a velocidade do vento poder ser, em partes do dia, inferior à requerida pelas turbinas, ou gerar um fluxo insuficiente de energia elétrica face ao requerido. Vê-se que os reservatórios tem da ordem de milésimos do volume requerido por kwh nas usinas hidrelétrica convencionais. Representam, portanto, sob este aspecto, estes reservatórios, custos ecológicos e econômicos de ordem de grandeza substancialmente menores do que os reservatórios das usinas hidrelétricas convencionais.

A eficiência das usinas hidrelétricas reversíveis é satisfatória. Entre outros fatores depende principalmente da diferença de cotas entre a entrada, ou seja a tomada da água, e a saída da água; e da intensidade do fluxo de água. O valor típico da eficiência pode ser tomado como 80% (RAIMUNDO, 2019, p.32).
Dada a alta eficiência das células solares no Nordeste, com latitudes abaixo de 10 graus de latitude Sul, mesmo perdendo 20% para armazenamento de energia, o custo da energia elétrica fica menor do que a gerada por células solares em 52 graus de latitude Norte, como Berlim, capital da Alemanha, pais que é grande usuário de energia elétrica de fonte fotovoltáica.

Note-se que os reservatórios das Usinas Hidrelétricas Reversíveis que sejam ao ar livre (o inferior pode estar em uma mina abandonada, sem insolação, portanto) apresentam perdas por evaporação. Mas, a evaporação pode ser significativamente reduzida se a lâmina d’água for ensobrada por painéis solares, geradores de energia elétrica. Quem está entre menos e mais dez graus de latitude tem condições privilegiadíssimas para utilizar a energia solar transformando-a diretamente em energia elétrica, e assim, gerar durante as horas de insolação energia elétrica para horas sem insolação, usando usinas hidrelétricas reversíveis como acumuladores de energia.

É patente a afinidade dos cientistas com formas de gerar energia elétrica que demandam o emprego de cientistas e de engenheiros de larga formação científica, onde se distingue a energia termonuclear. Mas, acreditando que os cientistas estejam interessados no bem-estar da população, acreditamos, por decorrência, que a Academia Pernambucana Ciências venha a promover debates que contemplem a solução nuclear face a soluções mais convencionais.
 

RAIMUNDO, Danielle Rodrigues. Análise ambiental de projeto de armazenamento de energia via Usina Hidrelétrica Reversível. 2019. 107 f. Dissertação (Mestrado em Engenharia de Energia) – Universidade Federal de Itajubá, Itajubá, 2019. Disponível em: https://repositorio.unifei.edu.br/xmlui/handle/123456789/1987. Acesso em: 11 dez., 2019.

Wikipedia (2019). Pumped-storage hydroelectricity. Disponível em: https://en.wikipedia.org/wiki/Pumped-storage_hydroelectricity. Acesso em 8 dez., 2019.

Observações
1 O assunto tratado nesta postagem é associado ao da postagem anterior, https://inovasmtp.blogspot.com/2019/12/uma-usina-nuclear-em-itacuruba.html

2 As postagens deste Blog Inovação e Adaptação ao Aquecimento Global constituem ações voluntárias dos mantenedores do Blog a uma melhor compreensão dos formadores de opinião e da sociedade em geral sobre as questões que possibilitam uma vida melhor face aos desafios postos pelo Aquecimento Global, pensando, principalmente nos povos que não causaram o Aquecimento,contribuem marginalmente para ele, sofrem com peso conhecidamente alto as suas consequências, são pressionados a porem barreiras em seus processos de desenvolvimento para mitigar o fenômeno que não causaram e têm escassíssimos recursos para se contraporem a seus efeitos maléficos por meio de Adaptação. Se o leitor concorda que tais ações aqui relatadas são úteis, não se exima de contribuir proporcionando divulgação do aqui exposto. 

terça-feira, 3 de dezembro de 2019

Uma usina nuclear em Itacuruba, município do estado Pernambuco, Brasil.





A Constituição do Estado de Pernambuco reza em seu artigo 216:

Fica proibida a instalação de usinas nucleares no território do Estado de Pernambuco enquanto não se esgotar toda a capacidade de produzir energia hidrelétrica e oriunda de outras fontes.

A capacidade de produzir energia elétrica oriunda de outras fontes está longe de ser esgotada. Usinas Eólicas podem ter sua capacidade total plenamente expandida, pois há uma área significativa do estado, com bom potencial de ventos, ainda inexplorada. Há maior potencial, ainda, de produção energia elétrica de origem fotovoltaica. Há ainda potencial para a instalação de florestas energéticas, tão zero carbono emissoras como as duas primeiras fontes citadas neste parágrafo.

Em total desreipeito à Constituição do Estado de Pernambuco, promulgada expressando legitimamente a vontade de seu povo, há tentativa de localizar no sertão do estado, no município de Itacuruba, uma usina nuclear. Itacuruba (latitude -08° 49’ 57”, longitude 38° 42' 24''), a Sudoeste da capital do estado, Recife (latitude 08° 03' 14'', longitude −34° 52' 52''). (Governo, 2016).  Localiza-se às margens do reservatório de Itaparica, com capacidade de 10,7 trulhões de litros de água expostos a um acidente nuclear, a mais de 300 km a montante da foz do Rio São Francisco. Itacuruba abriga os que foram deslocados da Itacuruba alagada pelas águas da Barragem de Itaparica, hoje sob cerca de uma dezena de metros da superfície enquanto a barragem esteja com 20% de sua capacidade. É uma cidade sertaneja de relocados. É tão relegada que não se presta muita atenção nem à sua localização. Há até documento oficial a pondo a Noroeste de Recife. Mas é ocupada por seres humanos, dignos toda a consideração. Suas vidas não valem menos, são tão valiosas quanto todas as demais vidas humanas.

A formalidade de uma audiência pública é, neste caso, um desabonador ato de desobediência e violação. No caso, ato perpetrado por um governo da Federação, violando um legítimo item constitucional de um ente federado. Caberia uma tomada de opinião para uma mudança da Constituição do Estado, a partir da qual, por um referendum popular ou por votação na Assembléia Legislativa a Constituição pode ser alterada. Não havendo mudança na Constituição Estadual cabe ao Governo Estadual defender, por todos os meios legais, a vontade do povo do estado, expressa na sua Constituição, inclusive proibindo qualquer atividade, promovida por qualquer entidade, que viole esta Constituição, tal qual uma audiência pública que não é uma mera discussão, em que cabe a liberdade de emitir opinião, mas parte integrante de um processo decisório que visa violar a constituição estadual, processo este que visa instalar uma usina nuclear dentro da área do estado de Pernambuco. Não deve o governo estadual acobertar tal violação.

Um segundo ponto sobre a ideia de expor Itacuruba aos efeitos de uma usina nuclear, de que Three Mile Island e Chernobyl são exemplos, diz respeito a aspectos geográficos, não políticos, desta infeliz localização pretendida para uma usina nuclear foi tratado neste Blog Inovação e Adaptação ao Aquecimento Global em postagem de 6 de janeiro de 2012 com título Centrais Nucleares são Indispensaveis, em que se advoga a localização de centrais nucleares acerca da foz dos rios, nunca em seu meio curso, quando forem indispensáveis. A questão é novamente tratada, desta vez em postagem de 7 de fevereiro de 2012, com título Centrais nucleares são indispensáveis - uma afirmação contestada, como comentário qualificado, expondo ponto de vista contrário à instalação de usinas nucleares.

Enfim, uma central nuclear em Itacuruba, nem pensar. A localização pode ser boa do ponto de vista político, pois só há meio milhar de habitantes por lá. Mas deve ser tornada inegociavelmente ruim, do ponto de vista da obrigação constitucional do Governo do Estado de defender a Constituição Estadual. A própria usina, em qualquer que seja a localização não é uma boa ideia. Mas se tivermos, brasileiros, que ter mais uma, que não seja violando a Constituição do Estado de Pernambuco, nem arriscando comprometer a vida do São Francisco, o chamado rio da unidade nacional, e no entorno dele, em cerca do último quarto de seu curso.



Se concordou, ou discordou, compartilhe em sua rede social. A discussão desta questão deve ser a mais generalizada possível. Está em jogo parte dos territórios de Alagoas, Bahia, Pernambuco e Sergipe.