terça-feira, 19 de maio de 2020

Covid-19 fornecendo licções de Adaptação, retomada econômica e o ciclismo


Após o pico da pandemia do Covid-19 há excepcional oportunidade para efetivo apoio ao ciclismo entendido no marco da Adaptação ao Aquecimento Global


Vivemos um momento especial, em que as pessoas preferem o transporte individual, com receio de contaminação. E o uso do transporte individual, pelo risco praticamente nulo que apresenta, tem também grande valor social. Quem quer se expor, como se expõe num transporte público, a chegar em casa e contaminar seus filhos, ou seu cônjuge, ou familiares mais idosos e não menos queridos? O risco é maior do que com o uso do transporte individual. A retomada pós covid-19 é a hora das bicicletas passarem a fazer uso sistemático das ciclovias em viagens de trabalho.  No sentido de analisar apoios imediatos ao ciclismo se passa a dois pontos de grande peso nas decisões individuais de significativas parcelas da população.

Ponto 1: Contribui substancialmente ao bem-estar de grande parcela da população que os destinos de longa permanência em viagens de bicicleta, como os ambientes de trabalho, disponham de cabines com chuveiro.
Elas contribuem também para que as pessoas que chegaram ao destino pela via do uso do transporte público corram menor risco de serem contaminadas e de contaminar.

Ciclovias são instaladas pensando na redução de emissão que proporcionam, em consonância com a desentupimento socialmente difundida. Mas ciclovias são, também, instrumentos de Adaptação ao Aquecimento Global, pela contribuição que dão à saúde dos usuários,  através inclusive, do reforço ao sistema imunológico que o exercício proporciona. A vantagem do ciclismo à  saúde de que se precisa cuidar mais, é contribuição favorável à vida, ainda mais bem vinda, na medida que o avanço das Mudanças Climáticas vai construindo um mundo menos saudável, corroendo as bases do bem-estar.

A imagem de ciclovias que foram instaladas sob forte demanda pública e foram solenemente inauguradas, mas que ficam vazias nos dias de semana é bem conhecida em vários países periféricos. Provocam a ira de motoristas que tiveram as faixas de rolamento estreitadas, dificultando o tráfego dos automóveis e ônibus e aumentando o risco para os motociclistas. Por acaso isto nunca foi notado pelas autoridades municipais? Ou sempre se vai aumentando a rede de ciclovias sob a alegação de que o baixo uso se dá por não estar a rede completa?

Será que nunca ocorreu às autoridades municipais que nos países de clima tropical, que não por acaso coletam as populações de países periféricos, é extremamente desagradável chegar no trabalho suado por conta do esforço de pedalar até lá, e ter de assim continuar até o fim do expediente, quando o ambiente de trabalho não tem ar condicionado? Ou, quando há ar condicionado no ambiente de trabalho, ter de ficar exalando o cheiro do suor pelo resto do expediente mesmo depois de secadas sua roupa e sua pele?

Ao senhor prefeito a quem nunca tenha ocorrido a contribuição ao baixo uso das ciclovias pela típica inexistência de cabines com chuveiros nas construções que abrigam ambientes de trabalho, sugerimos marcar uma importante reunião do secretariado às 13h30 de um dia com previsão de sol intenso. A experiência só vale se procurar uma situação, dramatizada pelo  horário, mas parecida com a vivida pelos "colaboradores", um eufemismo adotado nos dias de hoje para denominar funcionários. Ou seja, a uns dois quilômetros de distância antes da reunião seja servido um almoço aos que dela vão participar  (não vale se os dois quilômetros no sentido "local de almoço-local da reunião" forem consistentemente de descida) e que todos se toquem do local do almoço para o local da reunião, usando bicicletas como meio de locomoção. E em lá chegando, nada de banho. Que partam imediatamente para a reunião  É importante que metade ou mais do trajeto seja não ensombrado, como  usualmente ainda não são as ciclovias inauguradas nos últimos anos (Não vale ter, neste percurso, sol nas descidas e sombra nas subidas. Nesta experiência é preciso ser equânime). Desejamos boa reunião. Mas, embora ficássemos subidamente honrados com um eventual convite para dela participar, declinamos por antecipação. Somos favoráveis a ciclovias ensombradas e cabines com chuveiros nos locais de destino para longa permanência.


A instalação de cabines com chuveiros é, em geral, fácil de ser executada. E pode concorrer para ser ainda mais fácil a legislação estabelecer um diâmetro mínimo de 40 mm para a tubulação de drenagem, até à rede predial, providenciado acessos para desentupimento, ou se legislação especial for instituída, onde as exigências para drenagem forem maiores..

Empresários espremidos pelas agruras econômicas trazidas como efeito da pandemia, tipicamente não estarão dispostos a introduzir um elemento adicional em seus espaços, cabines com chuveiros, que requer pequeno, mas não nulo investimento. A contribuição ao bem-estar público que cabines com chuveiros nos destinos de longa permanência só será alcançada se uma regulamentação legal da Prefeitura os levar a isto, que pode ser aplicado como condição, segundo parâmetros que tecnicamente e observado os devidos aspectos econômicos sejam estabelecidos, para a abertura de novos negócios e, dado um prazo razoável, para os que já estão funcionando.

Ponto 2: A questão de incentivar o uso das ciclovias não se esgota em dar oportunidade do ciclista banhar-se antes do trabalho. É preciso, também, parar de desincentivar o uso da bicicleta. O sistema de políticas públicas brasileiro, por exemplo, desincentiva fortemente o uso da bicicleta. Sim, o trabalhador recebe do empregador, por decisão legal, todo o gasto com transporte de ida ao trabalho e retorno que exceder 6% do seu salário, desde que ele obrigatoriamente abra mão do uso das ciclovias, em suas viagens para e do trabalho, usando o sistema público de transporte. E caso ele de alguma forma receba o vale-transporte, mas seja visto chegando de bicicleta ao trabalho, torna-se passível de demissão por justa causa, com imensa perda de direitos trabalhistas indenizatórios.

A transformação da política pública descrita, desincentivadora do uso da bicicleta como meio de transporte para idas ao trabalho e vinda dele é simples. Basta permitir que os recursos do vale-transporte, esse o nome que é dado ao benefício trabalhista, possa ser usado para qualquer fim outro que não necessariamente o uso do sistema público de transporte. Assim, quem vai e volta de bicicleta pode incorporar à sua renda disponível para outros fins os recursos que seriam gastos com o transporte emissor de poluição e gases de efeito estufa. Melhor para o ambiente urbano, para a atual e as futuras gerações e para o bolso do trabalhador. Melhor, também, numa visão de curto prazo, para os trabalhadores, em geral afogados em débitos construídos no decurso dos lockdowns e outras medidas que vem causando previsões econômicas catastróficas quanto ao comportamento do PIB e da renda média disponível para consumo, atribulando principalmente as classes menos favorecidas, ou seja a expressão populacional da dívida social dos países periféricos.

Estamos portanto diante de uma situação em que não há conflito entre o curto e o longo prazo. Neste caso, o curto e o longo prazo se unem indicando uma importante oportunidade de adoção do saudável ciclismo por uma parte adicional da população. Estamos, na retomada da economia, que em muitos países periféricos se dará um ou dois meses adiante, alertando para que se exerça a vantagem do pensamento adiante, do planejamento. Dois pontos representam uma oportunidade na retomada: a possibilidade de conclusão satisfatória de viagens de bicicleta ao trabalho; a ocasião para parar o desincentivo ao uso das ciclovias, deixando de torná-las menos atraente e passando a torná-las mais atraentes também do ponto de vista econômico para uma expressiva parcela da população

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