sexta-feira, 30 de junho de 2017

Adaptação ao Aquecimento Global e o Produto Per Capita Mundial




A Biblia, o livro mais lido no mundo, registra que Jesus Cristo passou 40 dias no deserto. Isolado. Um soldado japonês, leal súdito do Imperador, continuava ignorando a perda da qualidade sobrehumana do seu Senhor, décadas após esta condição lhe haver sido reitrada. Escondido numa floresta asiática só mais de 5 décadas após o armistício que selou o fim da II Guerra Mundial, foi ter contato com um novo mundo em que o seu país voltava a despontar, desta vez já como a segunda potência mundial. Estivera isolado. Como a floresta onde estava vivendo.

O sistema atmosférico é global e se poderia dizer que nunca houve alguma área completamente isolada. Mas, se pode buscar alguma forma de isolamento. Se pode dizer que, estando o sistema atmosférico em equilíbrio em termos de ciclos anuais, ou seja, havendo apenas alterações conjunturais, que não alterem parâmetros médios decenais do clima, as interações entre cada segmento da atmosfera e o todo podem ser consideradas neutralizadas. Neste caso, não haveria rompimento da condição de isolamento se as médias de dez anos fossem permanecessem iguais. Neste ponto de vista o deserto de Jesus e a floresta do soldado japonês poderiam ser considerados isolados.

O sistema atmosférico é global e agora está passando por uma alteração que muda os parâmetros médios decenais. Está passando por Mudanças Climáticas. A interação agora, entre cada segmento da atmosfera e o todo passa por mudanças de uma outra natureza. Passa por alterações de longo prazo. Não há mais espaço para argumento de isolamento. Na alteração que cada segmento vai passando há necessária participação da interação com o restante da atmosfera.

O envólucro gasoso da Terra, em sua marcha de mudança de longo prazo de parâmetros (longo prazo como centenas de anos) vai interagindo com a superfície aquosa e térrea da Terra, levando os ambientes de segmentos da biosfera a estarem expostos a influência de seus entornos.

Uma nação, com seu sistema socioeconômico, está tão exposta ao seu entorno quando os segmentos da bioesfera, que se considerem nela contidas. As condições de vida natural, social e econômica vão se alterando com o passar do tempo, dada a continuidade das Mudanças Climáticas. Nada fica estacionário em seus parâmetros decenais. Nada está isolado. A situação de completa interdependência não fica exposta se os dados de um sistema socoeconomico forem apreciados em forma isolada, que não considere de forma explícita elementos externos a ela, tal como dados de produto per capita da economia.

Nesta época de mudanças de condições em que a vida se estabelece e frutifica, mudanças que envolvem interação clamando por consideração explicita, pedem indicadores que exponham esta irremediável interrelação. Os produtos per capita nacionais, o mais usado indicador do estado de uma economia nacional, se tornam portadores da relação de interação com os entornos das respectivas nações quando são expressos em termos que incluem informação externa ao específico sistema em que os produtos são gerados. Uma forma simples de se fazer expressa a relação de interdependência é expressar o produto per capita nacional como fração do análogo produto per capita mundial.

O produto per capita interno bruto é uma variável síntese de um aspecto da vida econômica em uma nação. Ao ser colocado como uma fração (que se torna própria ou imprópria) do análogo produto per capita mundial, fica exposta uma relação de posição entre a economia nacional e a economia do mundo das nações. A variação desta fração entre anos porta a informação sobre o desempenho econômico relativo de uma economia. Se está mais bem adaptada do que a média, tende a apresentar crescimento acima da média. E vice-versa.
Uma economia que tem capacidade para ser bem adaptada às mutantes condições econômicas, também, em princípio, deve ter capacidade para se adaptar aos efeitos das Mudanças Climáticas, trazidas ou não, pelo Aquecimento Global. Economias com boa capacidade de adaptação às mutantes condições climáticas, somadas às mutantes condições econômicas, tendem a ter um crescimento dao produto per capita mais elevado do que a respectiva média mundial.

Foi usado na postagem anterior deste blog Inovação e Adaptação ao Aquecimento Global, de 5 de junho deste 2017, Comparando Indicadores de Capacidade de Asaptação entre os 5 maiores países: o Brasil desponta um futuro de Submergent Power?, o conceito de produto per capita nacional relativo ao mundial aplicado aos cinco maiores países, baseado em dados do Banco Mundial. Viu-se como o Canadá, em que pese um brilhante prospecto de ganhos pelo Aquecimento Global, tem se saído mal no curto prazo, perdendo anualmente um por cento de produto per capita relativo ao mundial. Mas, como país de alto nível de renda per capita, continua bem acima da média. O Brasil, que estava ligeiramente acima, caiu para abaixo da média, por ter tido seu produto per capita crescido menos 0,85% ao ano em relação ao mundial. E a situação literalmente não muda ao se desconsiderar a perda de mais de 4% per capita no ano de 2015, ano final do intervalo 1990 – 2015 considerado.

Próxima postagem prevista para 07 de julho:
A Noruega e prejuízos continuados à Adaptação na Amazônia.
 

segunda-feira, 5 de junho de 2017

Comparando Indicadores de Capacidade de Adaptação entre os 5 maiores países: o Brasil desponta um futuro de Submergent Power?




Os efeitos das Mudanças Climáticas poduzem perdas econômicas causadas por eventos extremos. Em princípio, sendo tudo o mais constante (coeteris baribus), tanto maior a taxa de crescimento de uma economia, tão mais margem tem para que continue crescendo, apesar dos efeitos negativos que o Aquecimento Global lhe imponha. Neste aspecto é interessante analisar as taxas de crescimento dos 5 maiores países do mundo. 

É bom que se tome um período largo, que expresse uma situação mais estrutural, levando a que percam peso variações conjunturais. O Banco Mundial disponibiliza dados que se prestam a uma visão da situação de crescimento dos produtos per capita (GDP per capita) dos países relativamente ao produto per capita mundial. Este indicador expressa como anualmente, em média, cada país vai crescendo o GDP per capital nacional em uma taxa superior ou inferior ao mundial.

Os dados disponibilizados, relativos à economia mundial, se estendem ao período 1990 e 2015, sendo relativos ao início e ao fim deste período e a alguns anos do intervalo. Pode-se tomar o ano de 1990 como o início da hegemonia do paradigma tecnológico microeletrônico e da globalização que a acompanhou. Uma nova era, portanto, reorganizando o potencial de crescimento dos países. O período 1990-2015 trata do primeiro um quarto de século sob a hegemonia deste paradigma e da globalização correspondente.

Tomando os produtos per capita em dólares correntes, expressos em termos de paridade de poder de compra, divididos pelo produto per capita mundial em cada um dos anos extremos do intervalo, tem-se para a taxa de crescimento anual percentual do produto per capita nacional,  entre os anos de 1990 e 2015, de cada um dos 5 maiores países, em relação ao produto per capita mundial, por ordem decrescente: 




A China, com seu modelo de economia fechado às ingerências externas, vem apresentando a mais larga margem para fazer frente às adversidades climáticas. Entre 1990 e 2015 o GDP per capita chinês passou de 16 para 92% do GDP per capita mundial.
 
A Russia não foi capaz de apresentar desempenho semelhante. É um país cuja vastidão o faz estar presente na Europa como o país de maior extensão neste continente e na Ásia, como também o país de maior extensão neste outro vasto continente. Tamanha diversidade torna difícil que se atinja altas taxas de crescimento, Crescendo o produto per capita a 1/3 de 1 por cento acima da média mundial não está mal. No período 1990-2015 seu GDP per capita subiu de 147 para 162% do mundial.

Os Estados Unidos da América se apresentam com uma taxa de crescimento esperado. Sua extensão territorial e seu elevado nível de renda inicial no período toram difícil superar a taxa de crescimento do produto per capita mundial.  Seu produto per capita relativo vem caindo a um ritmo de cerca de 5/4 de 1 por cento ao ano.  Passou  de 441 para  358% do produto per capita mundial.

O Brasil tem uma taxa de crescimento do produto per capita relativo literalmente igual ao dos Estados Unidos. Mas, esta taxa de crescimento que pode ser considerada é boa para os Estados Unidos, não pode ser considerada boa para o Brasil. Seu produto per capita anda no entorno de apenas cerca de 27,5%  a 28% do produto per capita americano. Quanto a este aspecto o Brasil não está bem posicionado para absorver os impactos negativos do Aquecimento Global. Em 1990 apresentava um GDP per capita de 122% do análogo mundial. Chegou a 2015 com 98%. Crescer abaixo da média, para quem está abaixo da média não é um comportamento emergente. Se o Brasil insistir em crescer abaixo da média, de agora em diante, não mais será uma potência emergente. Se insistir terá uma baixa margem para Adaptação ao Aquecimento Global, como potência submergente.
Simultaneamente a apresentar uma taxa de crescimento abaixo da média o Brasil apresenta um alto endividamento do governo, indicando um padrão de gastos acima do que seria sustentável. Para um futuro não comprometido com estrangulamentos herdados por incontinência fiscal, os economistas estão advogando remédios amargos no presente para evitar viabilizar uma saída da indesejável posição de submergente. Deve-se frisar e enfatisar que se houver insistência de fração da sociedade em não abrir mão de privilégios considerados indevidos por muitos, se desvanece o apoio geral a medidas duras para o hoje que poderiam trazer melhor amanhã.

Por último temos o Canadá. É um país de alto nível de renda, com prospecto de ampliação de sua área agricultável como resultado de effortless Adaptação ao Aquecimento Global. Esta pode ser a razão por que muitos brasileiros, acostumados à idéia de morarem num país do futuro, busquem o Canada, para onde o futuro teria se transferido. Por enquanto, todavia, seu produto per capita cresce a um ritmo anual 1 por cento abaixo do crescimento do produto per capital mundial. Nesses 25 anos passou do GDP per capita de 370% do mundial para 282%.