Deixar de lado fatores favoráveis ao desenvolvimento de uma ação não é racional. As diversas composições de métodos devem ser pesadas, em termos de custos, riscos, vantagens e desvantagens, enfim, explorando todas as composições possíveis. Na Adaptação ao Aquecimento Global esta regra não é menos verdadeira. É até mais importante, dado à crucial necessidade de conduzir ações que promovam a Adaptação. E dado, também à maior dificuldade de desenvolver tais ações dado de que, embora por muitos se perceba serem ações necessárias, pela maioria todavia não há disposição para fazer frente aos custos da Adaptação, cujos frutos só aparecem muito depois. E dado ainda a que as amplas margens para interesses de que se continue tudo no mesmo (se continue “business as usual”) terminam por produzir muitas opiniões contrárias à necessidade de Adaptação. Com tantos pontos contrários, na Adaptação, não se deve perder margens favoráveis. A regra correta é pesar todas as formas possíveis de compor uma ação de Adaptação.
Muitas vezes o acaso vem expor componentes que devem ser racionalmente empregados. E não se deve perder oportunidade de sermos racionais. Quando uma ação envolve o emprego de tecnologias sofisticadas e tecnologias simples, às vezes a tecnologia simples é esquecida. É normal que assim o seja. Mas é racional que não o seja.
A enchente para lá de recorde que em 2010 devastou cidades na região da Mata Sul de Pernambuco, perto da fronteira que o estado faz com o de Alagoas, trouxe um exemplo de oportunidade de se combinar a tecnologia mais sofisticada com outra simples, multimilenar, para avisar a catástrofe com certa antecipação. A enchente veio com uma cabeça d´água muitas vezes mais alta do o normal em enchentes do rio, segundo os que a foram vendo chegar. Não se pode dizer que esta enchente tenha sido causada pelo Aquecimento Global. Mas prevenir enchentes é inegavelmente uma ação de Adaptação às Mudanças Climáticas dado que as previsões são de precipitações mais concentradas.
Nesta enchente de 2010, a APAC, um órgão do governo do estado de Pernambuco acompanhou as leituras de imagens relativas ao estado do tempo do INPE e, altas horas da noite, quando o desastre se configurou nas imagens, passou imediatamente a informação às prefeituras municipais das áreas a serem atingidas.
Na cidade de Barreiros, no caminho das águas, o pároco local teve conhecimento da previsão. Subiu à torre da igreja e mandou-se a tocar o sino. Todos começaram e se perguntar o porque daquela inconveniente insistência em hora imprópria e logo a notícia do que vinha se espalhou.
Muitas vidas e muitos bens foram salvos em Barreiros graças à combinação, não prevista, da mais sofisticada tecnologia de previsão de tempo, dominada pela agência do governo denominada APAC e de um sino, que representa uma tecnologia milenar.
Esta é uma lição a nunca ser desprezada. Mesmo que se use sofisticadas sirenes eletrônicas, não há por que desprezar os sinos. O emprego de combinar o possível nas ações de Adaptação ao Aquecimento Global tem uso racional mais geral do que parece à primeira vista.
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