Adaptação, Cuidados com a Amazônia e Hipocrisia
O
Reino da Noruega era pobre. As atividades desenvolvidas e a forma
como eram desenvolvidas conduziram
à relativa igualdade entre os cidadãos. A origem, os leitores
sabem, está naqueles vikings, comerciantes e grandes navegadores. O
imaginário popular os coloca como gostando de portar grandes e
pesados chifres, mas nada há de oficial nesta questão. Há mais
informação de que eram, também, guerreiros e expropriadores. Mas o
império viking foi construído no frio e nunca conseguiu amealhar
terras de grande riqueza produtiva.
O
bacalhau fora pescado em duras condições nas águas de mares frios.
Produziu a base da pauta de exportação em tempos modernos, já
pescado em maiores
outras latitudes.
O
Reino da Noruega continuou pobre mesmo depois que o progresso
tecnológico incluiu o petróleo como importante fonte energética
para o calor em processos produtivos e como praticamente exclusiva
fonte energética para os diversos transportes. Mas o conhecimento
dos exploradores de petróleo mudou sua sorte. Foi exatamente na
causa principal do Aquecimento Global, com sua gigantesca ofensa à
vida na biosfera da Terra que se baseou a grande mudança da Noruega.
Foi trazida pela descoberta do petróleo em áreas, mesmo submersas,
em sua reconhecida jurisdição. Resultou de que a sua exportação
de petróleo é tal que esta nação com 4,5% da extensão de área
territorial brasileira e com 2,5% da população da República do Brasil
tem uma pauta de exportação de igual dimensão.
Tem
o mérito de administrar bem esta riqueza que lhe caiu como um bônus
da natureza, tornada um bônus pelo avanço das forças produtivas
desenvolvido em latitudes mais baixas. Mas o que é apresentado, de
seu resultado como dos mais altos IDH
do mundo, que compartilha com a Dinamarca, como sendo fruto de uma
política de boa base de educação da população e de uma justa
distribuição de renda, tem como indispensável componente básico
explicativo, também, a exploração do bônus natural e de sua
consequente contribuição à degradação das condições de vida,
principalmente futuras, em grandes áreas do Planeta.
Quando
a Noruega dedica fundo financeiro para projetos de absorção de
carbono está tentando reduzir a contribuição ao mal causado pela
“economia do petróleo”, na qual tem seu bem-estar assentado. O
aumento do desmatamento da Amazônia no Brasil havido em 2015-2016
buliu com o que pode ser considerado um alívio para uma consciência
pesada do país nórdico. É uma questão de “descargo de consciência” no
linguajar dos matutos do interior do Nordeste do Brasil, o grupo que
representa a maior expressão da dívida socioeducacional brasileira.
Trouxe como reação a redução dos fundos disponibilizados para
projetos de Mitigação/Adaptação mantidos pela Noruega. O anúncio
formal foi feito em meio à visita oficial do Presidente da República
do Brasil àquele Reino.
A
relação da Noruega com a Amazônia não se limita à sua
significativa contribuição ao Aquecimento Global o qual, segundo
previsões do Hadley Centre, lider mundial no estudo do futuro clima
da Terra, deverá levá-la a encolher em cerca de 30% até 2100.
Global
warming will wreck attempts to save the Amazon rainforest, according
to a devastating new study which predicts that one-third of its trees
will be killed by even modest temperature rises.
(ADAM,
2009).
Enquanto
as previsões, em termos de mudança de clima, vão sendo observadas,
o já significativo aumento de literalmente 50% do teor de dióxido
de carbono na atmosfera vai estabelecendo mudanças na composição
dos vegetais, que crescem mais rapidamente, quanto menor for sua
densidade, reduzindo os seus teores de proteínas, com sério impacto
sobre a fauna. Mesmo no seio da floresta amazônica madeiras menos
densas, aumentando a taxa de crescimento mais do que as mais densas,
reduzem a densidade média da floresta. São mais sensíveis ao
stress
hídrico, expondo mais facilmente a floresta ao fogo, por secarem
mais rapidamente e por serem de combustão mais rápida.
A
relação do Reino com a Amazônia está traçada, também, pela
aplicação do fundo soberano norueguês, onde é aplicado o maná
econômico do petróleo. O fundo detém larga fração do capital da
empresa Hydro, uma das poucas líderes mundiais da indústria do
alumínio.
O
ciclo da produção de alumínio começa com a extração do minério
de bauxita, que contém 45-60%
de óxido de alumínio e é tipicamente minado em minas abertas,
exigindo a remoção completa da vegetação e da camada superior do
solo. (SWITKES,
2005, p.5)
Enquanto
seja beneficiada com isenção de 2 bilhões
de dólares do governo brasileiro
prossegue uma trajetória de ofensas
à floresta e aos seus povos. Um vazamento
de lama tóxica tornou-se o maior desastre ecológico da área. Os
habitantes
foram
impossibilitados de continuar a fazer o uso doméstico do rio, como:
beber água, cozinhar, lavar louça e roupa, e tomar banho. Os
moradores também deixaram de pescar e fazer a coleta de camarão,
atividade de subsistência que garantia a base alimentar
(FERNANDES; ALAMINO; ARAÚJO, 2014, p. 53/54)
A
empresa já colecionou mais de duas mil multas, aplicadas pela
autoridade do meio ambiente. A extração da bauxita na Amazônia e
de outros minerais é examinada, por vários autores, em termos de
sua relação de geração de riqueza
para uns e miséria para outros e para o ambiente. Listas de
malefícios podem ser encontradas em Fernandes, Alamino e Araújo
(2014) e em Switkes (2005). Um irônico resulta do chumbo que vai
sendo jogado na água, o qual reduz, como se sabe, a capacidade
cognitiva dos que com ela se dessedentam.
Testes
realizados pelo Laboratório de Química Analítica e Ambiental da
Universidade Federal do Pará (UFPA) indicaram que um em cada cinco
moradores
da região onde estão as empresas norueguesas está contaminado por
chumbo. (SENRA,
2017)
Os
habitantes locais, pobres, sem o “lure” que atrai grandes
notícias, são expostos a baixos níveis cognitivos enquanto os que
recebem os benefícios são premiados com o mais alto nível de IDH.
A
assimetria da informação favorece o comportamento heterogêneo,
assimétrico. A assimetria da informação não é destruída pelas
novas tecnologias. O zelo
com o desmatamento é propalado com força. O efeito de destruição
da floresta, incomparavelmente maior do que o do desmatamento, fica
deixado sem ênfase. Têm-se que reconhecer que este é um
comportamtento que aproveita a oportunidade que lhe está sendo
oferecida pelo mercado. Neste sentido é um êxito de adaptação.
Mas
não é este o tipo de Adaptação que este blog defende ser
aprofundado e difundido.
ADAM,
David (2009). Amazon could
shrink by 85% due to climate change, scientists say. The
Guardian, 11 de março de
2009. Disponível em:
https://www.theguardian.com/environment/2009/mar/11/amazon-global-warming-trees.
Acesso em 05 jul. 2017.
FERNANDES,
Francisco Rego Chaves; ALAMINO, Renata de Carvalho Jimenez; ARAUJO,
Eliane Rocha (Eds) (2014). RECURSOS MINERAIS E COMUNIDADE: impactos
humanos socioambientais econômicos. Disponível em:
www.cetem.gov.br/livros/item/download/117_128aa6542fad51c7e1f1fc29e18ab373.
Acesso em: 05 jul. 2017.
SENRA, Ricardo (2017). Apesar de criticar desmatamento, Noruega é dona de mineradora denunciada por contaminação na Amazônia. BBC Brasil. Disponível em: http://www.bbc.com/portuguese/brasil-40423002. Acesso em 05 jul. 2017.
SWITKES,
Glenn Ross. Impactos
ambientais e sociais da cadeia produtiva de Alumínio na Amazônia –
Ferramentas para os trabalhadores, as comunidades e os ativistas.
Disponível
em:
https://www.internationalrivers.org/sites/default/files/attached-files/foiling2005_po.pdf.
Acesso em
03 jul. 2017.
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