quinta-feira, 6 de julho de 2017

O Reino da Noruega: bem adaptado?


Adaptação, Cuidados com a Amazônia e Hipocrisia


O Reino da Noruega era pobre. As atividades desenvolvidas e a forma como eram desenvolvidas conduziram à relativa igualdade entre os cidadãos. A origem, os leitores sabem, está naqueles vikings, comerciantes e grandes navegadores. O imaginário popular os coloca como gostando de portar grandes e pesados chifres, mas nada há de oficial nesta questão. Há mais informação de que eram, também, guerreiros e expropriadores. Mas o império viking foi construído no frio e nunca conseguiu amealhar terras de grande riqueza produtiva.
O bacalhau fora pescado em duras condições nas águas de mares frios. Produziu a base da pauta de exportação em tempos modernos, já pescado em maiores outras latitudes.

O Reino da Noruega continuou pobre mesmo depois que o progresso tecnológico incluiu o petróleo como importante fonte energética para o calor em processos produtivos e como praticamente exclusiva fonte energética para os diversos transportes. Mas o conhecimento dos exploradores de petróleo mudou sua sorte. Foi exatamente na causa principal do Aquecimento Global, com sua gigantesca ofensa à vida na biosfera da Terra que se baseou a grande mudança da Noruega. Foi trazida pela descoberta do petróleo em áreas, mesmo submersas, em sua reconhecida jurisdição. Resultou de que a sua exportação de petróleo é tal que esta nação com 4,5% da extensão de área territorial brasileira e com 2,5% da população da República do Brasil tem uma pauta de exportação de igual dimensão.

Tem o mérito de administrar bem esta riqueza que lhe caiu como um bônus da natureza, tornada um bônus pelo avanço das forças produtivas desenvolvido em latitudes mais baixas. Mas o que é apresentado, de seu resultado como dos mais altos IDH do mundo, que compartilha com a Dinamarca, como sendo fruto de uma política de boa base de educação da população e de uma justa distribuição de renda, tem como indispensável componente básico explicativo, também, a exploração do bônus natural e de sua consequente contribuição à degradação das condições de vida, principalmente futuras, em grandes áreas do Planeta.

Quando a Noruega dedica fundo financeiro para projetos de absorção de carbono está tentando reduzir a contribuição ao mal causado pela “economia do petróleo”, na qual tem seu bem-estar assentado. O aumento do desmatamento da Amazônia no Brasil havido em 2015-2016 buliu com o que pode ser considerado um alívio para uma consciência pesada do país nórdico. É uma questão de “descargo de consciência” no linguajar dos matutos do interior do Nordeste do Brasil, o grupo que representa a maior expressão da dívida socioeducacional brasileira. Trouxe como reação a redução dos fundos disponibilizados para projetos de Mitigação/Adaptação mantidos pela Noruega. O anúncio formal foi feito em meio à visita oficial do Presidente da República do Brasil àquele Reino.

A relação da Noruega com a Amazônia não se limita à sua significativa contribuição ao Aquecimento Global o qual, segundo previsões do Hadley Centre, lider mundial no estudo do futuro clima da Terra, deverá levá-la a encolher em cerca de 30% até 2100.


Enquanto as previsões, em termos de mudança de clima, vão sendo observadas, o já significativo aumento de literalmente 50% do teor de dióxido de carbono na atmosfera vai estabelecendo mudanças na composição dos vegetais, que crescem mais rapidamente, quanto menor for sua densidade, reduzindo os seus teores de proteínas, com sério impacto sobre a fauna. Mesmo no seio da floresta amazônica madeiras menos densas, aumentando a taxa de crescimento mais do que as mais densas, reduzem a densidade média da floresta. São mais sensíveis ao stress hídrico, expondo mais facilmente a floresta ao fogo, por secarem mais rapidamente e por serem de combustão mais rápida.

A relação do Reino com a Amazônia está traçada, também, pela aplicação do fundo soberano norueguês, onde é aplicado o maná econômico do petróleo. O fundo detém larga fração do capital da empresa Hydro, uma das poucas líderes mundiais da indústria do alumínio.


Enquanto seja beneficiada com isenção de 2 bilhões de dólares do governo brasileiro prossegue uma trajetória de ofensas à floresta e aos seus povos. Um vazamento de lama tóxica tornou-se o maior desastre ecológico da área. Os habitantes


A empresa já colecionou mais de duas mil multas, aplicadas pela autoridade do meio ambiente. A extração da bauxita na Amazônia e de outros minerais é examinada, por vários autores, em termos de sua relação de geração de riqueza para uns e miséria para outros e para o ambiente. Listas de malefícios podem ser encontradas em Fernandes, Alamino e Araújo (2014) e em Switkes (2005). Um irônico resulta do chumbo que vai sendo jogado na água, o qual reduz, como se sabe, a capacidade cognitiva dos que com ela se dessedentam.


Os habitantes locais, pobres, sem o “lure” que atrai grandes notícias, são expostos a baixos níveis cognitivos enquanto os que recebem os benefícios são premiados com o mais alto nível de IDH.

A assimetria da informação favorece o comportamento heterogêneo, assimétrico. A assimetria da informação não é destruída pelas novas tecnologias. O zelo com o desmatamento é propalado com força. O efeito de destruição da floresta, incomparavelmente maior do que o do desmatamento, fica deixado sem ênfase. Têm-se que reconhecer que este é um comportamtento que aproveita a oportunidade que lhe está sendo oferecida pelo mercado. Neste sentido é um êxito de adaptação. Mas não é este o tipo de Adaptação que este blog defende ser aprofundado e difundido


 

ADAM, David (2009). Amazon could shrink by 85% due to climate change, scientists say. The Guardian, 11 de março de 2009. Disponível em:

FERNANDES, Francisco Rego Chaves; ALAMINO, Renata de Carvalho Jimenez; ARAUJO, Eliane Rocha (Eds) (2014). RECURSOS MINERAIS E COMUNIDADE: impactos humanos socioambientais econômicos. Disponível em: www.cetem.gov.br/livros/item/download/117_128aa6542fad51c7e1f1fc29e18ab373. Acesso em: 05 jul. 2017.

SENRA, Ricardo (2017). Apesar de criticar desmatamento, Noruega é dona de mineradora denunciada por contaminação na Amazônia. BBC Brasil. Disponível em: http://www.bbc.com/portuguese/brasil-40423002. Acesso em 05 jul. 2017.


SWITKES, Glenn Ross. Impactos ambientais e sociais da cadeia produtiva de Alumínio na Amazônia – Ferramentas para os trabalhadores, as comunidades e os ativistas. Disponível em: https://www.internationalrivers.org/sites/default/files/attached-files/foiling2005_po.pdf. Acesso em 03 jul. 2017.






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