Entramos na era do conhecimento. Parece incrível, mas simultaneamente entramos numa era de maior dificuldade para adquirir conhecimento. Isto mesmo. Se duvida, leia Hotter years 'mean lower exam results'. Se dúvida persiste, ou se quer ganhar mais informação sobre a relação entre temperatura e eficiência dos processos de aprendizado, vá adiante, leia Heat and Learning. A pesquisa, com base em notas obtidas por milhares e milhares de estudantes norteamericanos, além de comparar as notas de estudantes expostos a ambientes de estudo com diferentes temperaturas, sem ar condicionado, com as notas de estudantes cujas classes contavam com o benefício do ar condicionado. Nem estes escapam de prejuízos advindo de mais elevada temperatura do ambiente natural. Mas os estudantes que contam com ar condicionado em suas salas de aula e suas casas, têm apenas 0,5% de queda nas notas por cada grau centígrado acima de 21 grau centígrados no ambiente natural, enquanto o prejuízo dos que não contam com ar condicionado é quatro vezes maior, é 2% de queda, em média, nas notas, por cada grau centígrado de mais elevada temperatura.
O aumento da temperatura média causado pelas Mudanças Climáticas, então, contribui a um aprofundamento da desigualdade de conhecimento entre os niveis mais altos de renda que podem contar com ar condicionado nas classes e em casa e os que não podem contar com este benefício. Uma primeira imediata conclusão é que, para reduzir a contribuição do Aquecimento Global à desigualdade de conhecimento é necesssário que todas as escolas públicas tenham ar condicionado. E que sejam mantidos continuamente em bom estado de funcionamento.
O aumento geral das temperaturas dos ambientes naturais causado pelas Mudanças Climáticas tende a aumentar a desigualdade de conhecimento populacional médio entre países desenvolvidos e os que estão fora desta classificação. Nestes é difícil haver recursos orçamentários suficientes para dotar as classes de escolas públicas com ar condicionado. Mais difícil ainda é mantê-los continuamente em bom estado de funcionamento durante o período em que este funcionamento é requerido para manter o ambiente da classe numa temperatura condizente com alto nível de eficiência de aprendizado.
Os primeiros clássicos em Economia levavam em conta o clima como um dos componentes de um ambiente econômico. Vai mais longe no tempo o registro deste efeito. Há relatos no início da história colonial do Brasil, de que os brasileiros falavam de forma mais lenta do que os portugueses que não tinham se tornados brasileiros (nesta época, brasileiro não era quem tinha nascido no Brasil, mas o português, de fala nativa apressada, que tinha vindo ao Brasil ganhar dinheiro e tinha voltado para desfrutá-lo em Portugal). Falar mais devagar era o efeito do clima quente obrigando a adaptações que permitissem viver melhor nestas condições em que o próprio ambiente aumenta o peso do trabalho.
Euclides da Cunha, autor do épico 'Os Sertões', traz detalhado processo de efeito das temperaturas das temperaturas altas das regiões equatoriais brasileiras no metabolismo humano, resumindo sobre isto o conhecimento da época, ao redor dos anos 1900, quando seu livro foi escrito. Novos trabalhos há com a preocupação de Adaptação a um mundo mais quente e suas consequências.
Pode-se destacar um trabalho apresentado numa reunião da Associação de Economistas de Língua Portuguesa, sobre Adaptação ao Aquecimento Global. Apresenta informação, em forma gráfica, do efeito observado da temperatura sobre a eficiência humana. Mostra que há uma perda de cerca de 2% de eficiência por cada grau centígrado de temperatura acima de 25 graus. Coincidentemente o estudo sobre o efeito da temperatura no aprendizado traz como resultado uma diminuição de 1% nas notas obtidas por cada grau Farenheit adicional de temperatura, em idênticas condições à relação previamente expressa, resultado praticamente idêntico ao anterior, pois um grau centígrado equivale, a grosso modo, a dois graus Farenheit. A perda da eficiência do aprendizado com aumento da temperatura ambiente é da mesma ordem de grandeza da perda de eficiência em atividades produtivas em geral.
O efeito negativo da temperatura não se esgota na perda de eficiência. A qualidade de vida pode sofrer perdas devido à ação de temperatura mais alta, adicionada a perdas diretamente devidas a causas de mais elevada temperatura. Veja-se um exemplo de perda de qualidade de vida devido a temperatura mais alta e à incidência da maior radiação que a causa. Aconteceu com o autor desta postagem ter de, durante algum tempo, fazer uma certa caminhada no horário da maior insolação. Da esquina da Rua Amélia com a Av. Rui Barbosa, Graças, Recife, Brazil, até a esquina da Rua Amélia com a Av. Rosa e Silva são 564 metros, segundo o Google Maps. (Veja: https://www.google.com.br/maps/@-8.0448395,-34.8991844,699m/data=!3m1!1e3). A caminhada no meio dia, já no horário mais quente do verão, mês de janeiro, verão no hemisfério Sul, era feita agradavelmente sob a contínua sombra de árvores. Chegava à esquina da Rua Amélia com a Av. Rosa e Silva sem um pingo de suor. Prosseguia pela Rua Amélia até a esquina com a rua do Espinheiro. Um trecho de 205 metros no qual a sanha da modernidade equivocada, apaixonada por letreiros e anúncios, arrancou todas as árvores, a exceção de uma, à frente de tradicional supridor de frangos fritos, um chinês que, estrangeiro, respeitou a proibição formal de arrancar árvores, do governo municipal e do governo estadual. Caminhar por estes 205 metros era um inferno. Desde as primeiras horas da manhã o sol de 8 graus de latitude esquentava impiedosamente o solo. Somado a temperatura do ar o calor vinha dos raios solares incidentes no caminhante, da radiação que emanava do solo de cimento aquecido, da reflexão do sol nas fachadas e da radiação que delas, aquecidas, emanava. Ao fim dos 205 metros eu estava inteiramente molhado de suor, literalmente das meias à gola da camisa. Dobrando à esquerda na Rua do Espinheiro, mais cento e noventa metros, sob contínua sombra de árvores, sem acréscimo de suor. Alguns metros mais estava em casa. Exposto ao suor acumulado nos 250 metros da modernidade equivocada. Não se tratava de uma competição em horário tornado impróprio pelas novas temperaturas, cuja adaptação envolve mudar o horário. Se tratava de um deslocamento para o trabalho e de volta para casa, atormentado pela falta de continuidade do ensombramento. Não havia a chance de mudar de horário.
Na mesma temperatura do primeiro meio quilômetro de caminhada, ensombreada, confortável na hora mais desgastante do clima equatorial litorâneo, os duzentos metros seguintes foram severamente desgastantes. O termômetro marcava nos postos de observação climática, a mesma temperatura, quando estava num e noutro trecho da caminhada. Na mesma temperatura anunciada pelos sistemas de observação das condições de tempo, duas condições profundamente diferenciadas. Suponha que a Prefeitura tivesse cumprido o seu papel de zelar pelas condições urbanas, especialmente das vias urbanas e a caminhada de três quartos de quilômetro tivesse sido feita em calçadas continuamente ensombradas. O almoço teria sido feito com o conforto de ter sido precedido de uma suave caminhada. Mas não, bastaram duas centenas de metros de exposição a um ambiente sem ensombramento, para que os nomes das lojas pudessem ser vistos sem a perturbação visual de árvores, para que as condições tornassem o almoço precedido de desconforto.
Perdas, inclusive de eficiência, causadas por situações que fogem à media, a exemplo de como a descrita foge do ensombramento médio, exigem uma metodologia diferente para a estimação. São necessárias, em geral, pequenas amostras em condições "de laboratório", ou seja, com indivíduos estudados sob condições se não controladas, mas observadas com mensurações de frequência conveniente para o que esteja sendo pesquisado e aplicadas de forma a revelar as condições específicas a que os agentes pesquisados estão expostos. Mas são estudos importantes para que se possa manter a mais alta possível qualidade de vida, em condições sustentáveis, a todos os membros da sociedade. As condições externas às classes podem ter fortes impactos nos níveis de aprendizado. E é preciso que as condições externas às classes contribuam, quer elas sejam ou não dotadas de ar condicionado, a um melhor aproveitamento dos estudantes e a uma menor diferença de rendimento escolar entre os que contam e os que não contam com ar condicionado em suas classes.
O objetivo de dotar todas as classes de aula em um país tropical de ar condicionado deve ser perseguido com afinco. O ensombramento contínuo para o conforto dos pedestres e dos ciclistas deve ser um padrão a ser implantado tão rapidamente quanto possível.
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