A mais de 100 km ao Sul
da Cachoeira de Paulo Afonso está o município baiano de Jeremoabo.
Em pleno sertão, a Oeste do estado de Sergipe. Ou seja, olhando para
um mapa político do Brasil, está bem por trás de Sergipe. Para os
climatologistas, o clima é As na classificação climática de
Köppen-Geiger. Como todo sertão, Jeremoabo é, para os não
climatologistas, simplesmente seco.
De lá partiram as
expedições militares em destino ao Vaza Barris, que visavam acabar
com o sonho da cidade santuário de Canudos, e terminaram por
fazê-lo. De lá partiram tanto as derrotadas e como a última,
vitoriosa, e, por isto última, que tomou a cidade, inicialmente com
milhares de almas, num episódio final descrito por Euclides
da Cunha:
Canudos
não se rendeu. Exemplo único em toda a História, resistiu até o
esgotamento completo. Expugnado palmo a palmo, na precisão integral
do termo, caiu no dia 5, ao entardecer, quando caíram seus últimos
defensores, que todos morreram. Eram quatro apenas: um velho, dois
homens feitos e uma criança, na frente dos quais rugiam ruivosamente
5.000 soldados.
Jeremoabo se distingue,
também, por lá ter sido, décadas depois, enterrado Corisco, lider
de bando cangaceiro que, rivalizando com o de Lampião, aterrorisava o sertão. É uma cidade desconhecida do brasileiro médio de fora do estado da Bahia, mas é vinculada a episódios notáveis das primeiras décadas da vida republicana do Brasil.
Seus típicos
habitantes não viram muitas mudanças para melhor através das
décadas de Brasil que se passaram: os “cinquenta anos em cinco”,
da segunda metade dos anos 50 em que o Brasil deu um salto na direção da industrialização; o
“milagre brasileiro”, dos anos 70, em que o Brasil cresceu seu produto por volta de 10% ao ano; a “década perdida” dos anos 80; a celebrada
entrada de mau jeito na Globalização, nos anos 90, que o Brasil a terminar por voltar a ter
apenas 15% de produto industrial em seu produto nacional. Os camponeses de Jeremoabo continuavam lá, vendo o tempo passar em outro rítmo.
Mas houve uma nítida
recente mudança na questão da educação. Pelo
menos do ponto de vista quantitativo (A questão qualitativa, um desastre brasileiro, não
é particular a Jeremoabo. É um grave problema, mas é brasileiro). Hoje, dos quase 40
mil habitantes do município, mais de 8.000 atendem ao ensino
fundamental. E mais de 1.400 frequentam o ensino médio gratuito em
escola pública (IBGE, 2012). E muitas famílias camponesas estão
hoje com um bom padrão alimentar como resultado de recentes
ações de convivência com a seca, que constituem, então, um
primeiro estágio de Adaptação ao Aquecimento Global.
Espera-se que a Rio+20
faça prover recursos para a adaptação nas regiões equatoriais a
exemplo do que ocorre em Jeremoabo. Estas regiões abrigam áreas
semi-áridas e até áridas, que cobrem 3/4 da área do Nordeste brasileiro. Nelas se encontra uma expressiva parcela
da população humana carente dos mais básicos recursos, carência
alimentada pelo círculo vicioso da pobreza. A necessidade de
programas de educação que elevem o piso educacional ao ciclo médio
bem feito é uma marca comum destas áreas em todo o mundo. A situação se repete na África, agravada pelo efeito histórico da drenagem de recursos, quer diretamente, pelo pagamento de minérios a preços vis, quer indiretamente, pelos impostos impostos pelos países centrais à importação seus de produtos agrícolas. Espera-se
que a sustentabilidade da Rio+20 seja reconhecida como tendo por pilar
a oferta de educação onde hoje ela faz falta, tornando-a, nestes
casos, o mais crucial ingrediente da Adaptação ao Aquecimento
Global. E que dela resulte o estímulo ao desenho e implementação de medidas para a necessária
melhora qualitativa.
Nenhum comentário:
Postar um comentário