domingo, 22 de novembro de 2015

O amargo Rio Doce

O Rio Doce teve uma participação importante na história colonial brasileira. Basta ver que é o rio mais importante do Estado de Minas Gerais, unindo áreas onde a mineração, no estado brasileiro cujo nome - Minas Gerais - o denuncia como de grande riqueza mineral.

A riqueza mineral causou um grande desenvolvimento onde as minas estavam instaladas. Foram-se as primeiras minas, de pedras e metais preciosos, dada a atração do ocidental por coisas que brilham. Nada tão diferente da atração dos índios brasileiros por coisas que brilham. Apenas a raridade conferia um maior valor econômico a uma coisa de brilha e é rara do que uma coisa que brilha e é abundante. Afinal o ocidente já de muito, do ponto de vista histórico era guiado pelo individualismo. Ora, numa sociedade desta o que brilha e é raro é admirado por todos, pelo seu brilho, mas só os abastados podem ter. A diferenciação dos indivíduos por poder possuir coisas que brilham leva aos abastados a conferir um valor especial à coisa que brilha e é rara. Já os índios não eram individualistas e a coisa que brilha tinha valor pelo ser brilho, dois sistemas de valoração diferentes que levavam o invasor branco, europeu, mais desenvolvido, a considerar idiotas os que adotavam o outro sistema, os índios. Pois a atração pelas coisas que brilham e são raras levava o invasor branco ter seus mais pobres participantes desta sociedade no Brasil, a se embrenharem sob o solo, como tatus, para achar coisas que brilham e assim deixarem de ser pobres. Assim se desenvolveram cidades no entorno das minas. Cidades que ficariam vazias, quando vazias ficaram as minas. O rio Doce presenciou toda esta gloriosa cena.

A riqueza mineral continua a causar riqueza. Agora é o ferro, o procurado. Não brilha, mas permite a produção de coisas de máxima importância para o homem civilizado, como os automóveis. São objetos que levariam as pessoas com rapidez nas viagens urbanas. Pois de tanto se produzir os tais automóveis, seus passageiros não devem ter mais pressa. Estão sempre engarrafados em alguma rua ou avenida entupida de automóveis. Sem brilho, eles têm grande valor pela diferenciação a que servem. Afinal quem está engarrafado num modelo de mais representatividade dos Audis se vê muito mais importante do que quem só pode comprar um Audi compacto. Este olha para o engafarrado ao lado e pensa. Nem ao menos pode comprar um Honda CRV. Teve que ficar com um FIT para dizer que tem um Honda. E assim por diante, até que se chegue ao entregador da padaria, com uma bicicleta velha.  E haja mina. E haja reservatório de dejetos da mineração. Eles, mais de cinquenta em Minas Gerais, servem para guardar eternamente o tais dejetos. E esperar que um dia sejam limpos pela rutura da parede de contenção. Pois aconteceu.

Rompeu-se uma das barragens da Samarco (Há quem diga São Marcos). E uma "cabeça d'agua" de inicialmente 15 metros de altura avançou vale abaixo. Destruiu cidades. Matou seres humanos. E matou o Rio Doce.  A lama desceu Rio Dece abaixo, transformando a água doce num caldo de lama de rejeitos de mineração. A recuperação do Rio Doce deve, segundo uns, demorar uns cem anos. Seja isto um exagero. Digamos cinquenta anos. Mas que recuperação. Certos tipos endemicos de peixe jamais voltarão. Mas que isto tem a ver com Adaptação. Tudo a ver.

A demora na recuperação do rio tem ordem de grandeza igual ao tempo para a instalação de efeitos muito fortes do Aquecimento Global. Ou seja, o rio morto vai prejudicar ações de recuperação que poderiam ter no rio um elemento de suporte. Basta ver que uma das ações de Adaptação é o fortalecimento das comunidades locais. Não se vai poder contar com o rio morto para tal. O Aquecimento castiga a ecologia. Pois castigada ela já está. Os efeitos do Aquecimento vão castigar um sistema ecológico já está castigado. Enfim, o rompimento da barrragem foi um movimento negativo de Adaptação.

Pode-se no mínimo esperar que seja a Samarco (há quem diga São Marcos) obrigada a bancar o custo da recuperação possível. Esta seria uma multa que não iria para a conta única da união, e sim seria aplicada onde houve a destruição.

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