sábado, 29 de abril de 2017

Adaptação ao Aquecimento Global: a ilusão do HDI "as comproved by the Brazilian poor performance on education"

O HDI merece ser celebrado. Foi uma ótima idéia. Um índice que reflete melhor a condição de vida de uma coletividade, estado ou nação do que as respectivas rendas per capita, as quais estão contempladas na sua formulação.  Captura outras variáveis importantes, como a educação, um grande eixo de sua formulação.

A relação estatística entre nível do Human Development Index - HDI de um município (county) e o seu  nível de potencialidade para Adaptação ao Aquecimento Global encontrada entre os municípios das regiões Norte e Nordeste do Brasil, não se aplica bem aos países. Isto porque o nível de dispersão da qualidade da educação é muito mais alto entre países do que entre os municípios do Norte e Nordeste do Brasil. Tal afirmação, a perda da capacidade de comparação do HDI quando usado para comparar dois grupos de pessoas de diferentes padrões de educação, pode produzir uma grande interrogação no leitor. Uma explicação segue adiante, respondendo à interrogação.

O HDI leva em consideração o número de anos de escolaridade e variáveis estatisticamente associadas à qualidade do ensino Mas há associações fortes e associações fracas. Há associações enganosas por prezarem as formas e desprezarem a essência. Não é usada no HDI uma medida direta da qualidade do ensino. Permite que a qualidade, o aspecto mais importante da educação, seja efetivamente desprezada. Assim, o HDI apresenta valores superestimados para países com  educação de péssima qualidade. O Brasil é um deles.

O Brasil, que o governo passado chamava "pátria educadora", subiu no nível de HDI. Expandiu o número de anos de escolaridade na população. Aumentou o número de professores do ensino fundamental e do ensino médio graduados com cursos superiores na área do ensino. Mas, a qualidade, resistentemente negou-se a subir. Apresentou queda, em relação a ano anterior, no índice Programme for International Student Assessment  PISA, de 2015, aplicado a amostras de estudantes  de 70 países (35 membros da OECD e 35 outros).

Na área de Ciência os cinco países que apresentaram maiores notas alcançaram uma média de 538 pontos. A média dos países da OCDE foi um pouco mais baixa, 493 pontos, 8% abaixo da média dos cinco de maior nota.  O Brasil ficou com 401 pontos, 25% abaixo.

Na área de Leitura o desnível foi um pouco menor, apenas 23% abaixo da média dos cinco países de mais alta nota. Mas a importante linguagem, a matemática, foi desastrosa para o Brasil. A média dos cinco países de mais alta nota atingiu 546 pontos. O Brasil ficou com 69% desta média.

Abaixo do Brasil estão poucos países. A média dos países de nota inferior à do Brasil é 3,7% menor em ciências (apenas 5 países). Em leitura a diferença análoga é maior, atinge 8,6% (apenas 10 países estão abaixo). Mas, na mais importante, matemática, cai para 5,1% (apenas 5 países estão abaixo). Ou seja, o Brasil está longe dos paises de nível mais alto e consistentemente junto aos de nível mais baixo.

É preciso explicar que os países com notas inferiores ao Brasil, tem peculiaridades que explicam as suas notas. Um grupo de habitantes remanescentes de um império destruído pelos invasores espanhóis, com cultura diferenciada em relação aos descendentes dos invasores, tende a ser discriminado. Pior ainda, se ocupa montanhas de relativamente difícil acesso. Constituindo um em cada dois lares, os invadidos puxam para baixo os índices relativos à educação, medidos segundo a métrica dos invasores. Uma ilha cuja principal atividade econômica, desde a invasão européia, foi a monocultura canavieira, baseada, até século e meio atrás, em trabalho escravo, vítima de lutas coloniais e de ditadores cruéis, mais interessados no poder do que no desenvolvimento. Uma ilha onde a educação nunca teve prioridade. Nunca teve oportunidade de um lapso de tempo suficientemente grande de estabilidade para encetar um vigoroso desenvolvimento econômico. Pense, ainda, em países em que as mulheres apresentam baixa participação na força de trabalho. Estes têm as mulheres com nível de educação limitado ao básico, dosado pelas necessidades das tarefas domésticas. Para eles o índice expressa uma medida segundo valores ocidentais, distorcendo os seus valores.

O Brasil é diferente. É um país de valores ocidentais. Passou por um vigoroso processo de industrialização, que em meio século, de 1930 a 1980 e o fez passar de um economia primária à oitava economia industrial do mundo. Mas foi um processo baseado nos princípios da divisão de trabalho taylorista, onde um pequeno grupo bem formado faz o todo, baseado em mão de obra não educada, produzir eficientemente. Este sistema, da produção baseada no ignorância populacional, ruiu com a substituição do paradigma eletromecânico pelo paradigma microeletrônico. Agora o Brasil corre atrás do que devia ter feito há mais de um século atrás. Os indicadores educacionais mostram isto, em termos quantitativos. Mas em termos qualitativos além do já relatado, atrás, cabe considerar ainda um outro indicador de qualidade do ensino no Brasil.

Um estudo de resultado surpreendente foi realizado pelo Instituto Paulo Montegro, o qual criara o Índice Nacional de Analfabetismo Funcional - INAF. Os analfabetos funcionais são incapazes de resolver problemas simples de matemática cuja solução é damanda na vida cotidiana, tal como conferir troco, entender gráficos e tabelas inseridas no texto de uma publicação simples como um jornal diário. São incapazes de identificar o conteúdo de suas leituras, embora possam  identificar as letras, assim "lendo" as palavras e as frases. O índice expõe a razão entre os analfabetos funcionais e o número de pessoas num grupo a que se aplique o índice.

Um resultado para o Brasil mostra como medir a qualidade do ensino por variáveis como a titulação formal dos docentes é enganoso. Um de cada quatro dos que concluiram o ensino fundamentai, ou seja, após oito anos de idas e vindas entre casa e escola, são analfabetos funcionais. Um em cada dez que concluiram o ensino médio são analfabetos funcionais. Agora pasmem: no ano inicial deste śeculo, 2% dos que concluíram curso superior eram analfabetos funcionais; dez anos depois, como resultado a expansão do ensino superior, este percentual dobrou, elevou-se a 4%. Se o número de cursos superiores  se expandiu nestes 10 anos, foi surpreendente a expansão dos analfabetos funcionais graduados em nível superior. Eram 6,5 brasileiros em cada cem maiores de idades com curso superior em 2001. Passaram a 13,7 em 2011. Os novos egressos apresentaram, então a taxa de 7% de analfabetos funcionais. Enquanto o número de cursos basicamente duplicou, o percentual de analfabetos funcionais egressos de cursos superiores não diminuiu como o desenvolvimento econômico faria esperar. A contrário, cresceu, mais que triplicou.

O HDI, levando em consideração o número de anos de escolaridade, sem o devido apreço à qualidade, é um indicador que enviesa para  cima a posição de países como o Brasil. E os apresenta, sob este ângulo com uma capacidade de Adaptação ao Aquecimento Global maior do que a real.

O HDI pode ser corrigido para descontar a má qualidade da educação, reduzindo adequadamente o tempo de escolaridade. Isto exigiria que um índice como o PISA fosse aplicado em todos os países da United Nations - UN. Um tal programa encetado pela UN expondo a qualidade da educação produziria um bom impulso na direção da melhoria da qualidade da educação no mundo.

Revised on 08 May 2017.
Revised on 09 May 2017.

Referências

CALDERÓN G., Fernando (2007).Países Andinos.Tempos de agitação, tempos de mudança. Sociedade e democracia nos países andinos meridionais.In SORJ, B., and OLIVEIRA, M.D., eds. Sociedade civil e democracia na América Latina: Crise e reinvenção da política[online].Rio de Janeiro:: Centro Edelstein de Pesquisa Social,2007.pp.147-198. ISBN 978-85-9966-223-6. Available from SciELO Books<http://books.scielo.org>.

CURY, Fernanda. Inaf - Indicador de Analfabetismo funcional. In: V Fórum Banco Central sobre Inclusão Financeira. Fortaleza, 04 a 08 de novembro de 2013. Disponível em: http://www.bcb.gov.br/pre/incfinac/vforum/docs/2-Fernanda_Cury_Inaf_05Nov2013.pdf. Acesso em 29. abr. 2017.

MOYA Pons, Frank  (Coord.). Historia de la República Dominicana. In: NARANJA Orovio, Consuelo (Dir.)(s.d.). Historia de las Antillas. Vol.II. Santo Domingo: Ediciones Doce Calles. Disponível em: http://reccma.es/libros/historia-republica-dominicana/Historia-Rep-Dominicana.pdf. Acesso em: 10 fev. 2017.

OECD (2016).PISA 2015. Results in Focus. Disponível em: https://www.oecd.org/pisa/pisa-2015-results-in-focus.pdf. Acesso em 10 fev. 2017. 

WORLD Bank Middle East and North Africa Social and Economic Development Group (s.d.). The Status & Progress of Women in the Middle East & North Africa. Disponível em: http://siteresources.worldbank.org/INTMENA/Resources/MENA_Gender_Compendium-2009-1.pdf. Acesso em: 10 fev, 2017. 


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