terça-feira, 11 de abril de 2017

Dimensões da Adaptação ao Aquecimento Global



A afirmação “Aquecimento Global: Mitigação é Global, Adaptação é Local” aparece muitas vezes, quando menos de forma implícita nos discursos sobre o enfrentamento do Aquecimento Global. Que os efeitos da ofensa ao clima na forma de emissão antrópica de substâncias de efeito estufa sejam de amplitude global, não há dúvida. Afetam áreas geográficas e suas populações de forma desigual, é verdade, mas afetam a todos os presentes e os que virão nas próximas décadas e nos próximos séculos. A Mitigação, ou seja, ações que propiciem redução da emissão de gases estufa e/ou a absorção de gases estufa da atmosfera, é uma tarefa global, tal como global são os efeitos da emissão de substâncias de efeito estufa.

O Aquecimento Global, a elevação da temperatura da atmosfera próxima à superfície terrestre é global mas, fixado uma variável, como por exemplo, a temperatura média mínima nos últimos dez anos, a elevação da temperatura se apresenta de forma diferente em diferentes localidades. Tal como a inflação em uma economia é a subida geral de preços, mas num determinado período cada preço sobe com elevações diferentes, alguns poucos preços até apresentando redução ou permanecendo constantes, enquanto todos os outros sobem. 

A elevação da temperatura é variada entre diferentes localidades. Mais variados ainda são os efeitos, como modificação do ritmo de precipitações, da ocorrência de efeitos climáticos extremos e suas consequências, também variadas para cada dado tipo e intensidade de evento extremo, produzindo ainda mais diferentes vulnerabilidades face às diferentes configurações geográficas e de ocupação socioeconômica. Os efeitos, enfim, se pronunciam sempre, em cada área, com diferentes temporalidades e intensidades. Os remédios para a redução ou superação de danos são aplicados nas áreas onde os específicos efeitos negativos ocorreram ou são previstos. Cada tipo de evento negativo tem, para cada área geográfica, uma probabilidade de ocorrência (em cada período de tempo adequado para o evento) e uma ou mais soluções.

As áreas de ocorrência de um evento negativo, requerendo ações de prevenção e de reparação, podem estar restritas a área interna a uma unidade produtiva e podem ter na unidade produtiva os recursos para as ações requeridas. Podem ser internas a um município e pode ele ter os meios para prevenção e reparação. Podem ser restritas a um estado e pode ele resolver com seus meios o que seja necessário. Podem ser internas a uma nação e ela ser autosuficente para as ações necessárias. Mas, há situações em que a área onde se dá o evento negativo extrapola os limites de fazendas, municípios, estados, nações. Com maior frequência ainda os recursos para as intervenções necessárias extrapolam os disponíveis pelos agentes a quem confere a reação relativa a eventos negativos de origem climática. Basta olhar para eventos como os incêndios florestais na Rússia, nos verões de 2010 e 2011, tão extensos foram que se refletiram nos indicadores da produção agropecuária russa; como o incêndio florestal do Chile em 2017, o maior já ocorrido no país, the greatest forest disaster”, para combater o qual houve ajuda de países vizinhos latinoamericanos. Enchentes provocados por chuvas monumentais romperam com os registros históricos no Perú, neste ano de 2017. A ajuda internacional, de países vizinhos, foi acionada e colaborou com o suprimento de alimentos e água a populações que tiveram o acesso cortado pela destruição de pontes e de estradas. Em deslizamentos de terra na Colombia, provocados pela continuidade de precipitações “hsitóricas” ainda neste 2017, morreram mais de duas centenas de pessoas. Seria interessante uma imediata ajuda internacional de especialistas em remoção de material para salvamento de soterrados. Cada hora passada conta muito contra a probabilidade de encontrar soterrados com vida e é muito pouco provável que haja competência em remoção em quantitades suficiente em cada estado ou mesmo nação de pequeno porte. A estruturação de capacidade de disparar imediata ajuda internacional é uma medida de Adaptação a tempos onde tais eventos catastróficos tendem a se repetir com maior frequência do que nos registros históricos. Isto caberia a associações de nações, como a UNASUL, a OEA, a ONU.

A Adaptação envolve diferentes medidas e ações, desde da ordem de estabelecimento de políticas públicas nacionais, estaduais e municipais, políticas corporativas, como da ordem dos diversos ângulos e aspectos de execução dessas políticas. Pode-se destacar nas áreas urbanas as questões de deslizamento de terras inclinadas; de áreas alagáveis com política de uso urbano que reduz os prejuízos, de sistema de drenagem adequado às precipitações extremas, rotas de fugas para aprisionados nas enchentes repentinas; de temperatura e sua relação com meios para evitar altos níveis de ilhas de calor. Pode-se relacionar nas áreas rurais o zoneamento orientando a distribuição geográfica da produção, o sistema de informação climática permitindo as mais rápidas possíveis intervenções dos agricultores, o sistema de pesquisa agropecuária desenvolvendo cultivares mais adequados aos novos climas, assim como novos sistemas de produção e de manejo de culturas e de manejo de solo e água. Sistemas de apoio a inovações sociais dirigidas à Adaptação podem concorrer para eficiente difusão de tecnologias agrícolas.Em muitos casos inovações sociais são imprescindíveis para a difusão de inovações tecnológicas.
As dimensões da Adaptação crescem quando o estabelecimento de condições favoráveis à formulação de ações de prevenção e reparação de efeitos nocivos do Aquecimento Global são adicionados a ações de Adaptação no sentido restrito. Entre o estabelecimento de condições favoráveis está o avanço na qualidade da educação populacional. Quanto mais elevado o nível da educação populacional mais alta a capacidade de apreender o conteúdo de informes técnicos e mais rápido e mais completo o domínio de inovações, quer tecnológicas, quer sociais, tais como as inovações voltadas à Adaptação ao Aquecimento Global. E a educação populacional, em seu ângulo de qualidade, envolve todos os municípios, estados e o próprio governo central de cada país.

O processo de Adaptação às Mudanças Climáticas abrange os mais variados aspectos da vida socioeconomica das nações. Não se deve esperar que seja liderado por empresas privadas, que visam o lucro numa dimensão de tempo mais curto do que o das ocorrências, que abrangem extensões mais longas. Deve ser coordenado entre os diversos governos e entre os diversos agentes públicos. É um processo complexo. É difícil que seja levado em conta a contento, pelo menos no atual estágio dos seus efeitos, principalmente por se referir a um fenômeno a que o Homem nunca foi antes exposto e que torna de pouco valor preditivo as probabilidades de eventos geradas pelas séries históricas existentes, não havendo experiência acumulada sobre eles. A situação de se estar frente a algo inteiramente novo para a humanidade leva a Adaptação a tender ser mais difícil. Um dos componentes da dificuldade se encontra praticamente irremovível nas democracias, da natural sucessão de radicalmente opostos pontos de vista de governantes sobre o Aquecimento Global e suas decorrentes Mudanças Climáticas, ou seja, sobre as causas das necessidades de Adaptação. 

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