A
afirmação “Aquecimento Global: Mitigação é Global, Adaptação
é Local” aparece muitas vezes, quando menos de forma implícita
nos discursos sobre o enfrentamento do Aquecimento Global. Que os
efeitos da ofensa ao clima na forma de emissão antrópica de
substâncias de efeito estufa sejam de amplitude global, não há
dúvida. Afetam áreas geográficas e suas populações de forma
desigual, é verdade, mas afetam a todos os presentes e os que virão
nas próximas décadas e nos próximos séculos. A Mitigação, ou
seja, ações que propiciem redução da emissão de gases estufa
e/ou a absorção de gases estufa da atmosfera, é uma tarefa global,
tal como global são os efeitos da emissão de substâncias de efeito
estufa.
O
Aquecimento Global, a elevação da temperatura da atmosfera próxima
à superfície terrestre é global mas, fixado uma variável,
como por exemplo, a temperatura média mínima nos últimos dez anos,
a elevação da temperatura se apresenta de forma diferente em
diferentes localidades. Tal como a inflação em uma economia é a
subida geral de preços, mas num determinado período cada preço
sobe com elevações diferentes, alguns poucos preços até
apresentando redução ou permanecendo constantes, enquanto todos os
outros sobem.
A
elevação da temperatura é variada entre diferentes localidades.
Mais variados ainda são os efeitos, como modificação do ritmo de
precipitações, da ocorrência de efeitos climáticos extremos e
suas consequências, também variadas para cada dado tipo e
intensidade de evento extremo, produzindo ainda mais diferentes
vulnerabilidades face às diferentes configurações geográficas e
de ocupação socioeconômica. Os efeitos, enfim, se pronunciam
sempre, em cada área, com diferentes temporalidades e
intensidades. Os remédios para a redução ou superação de danos
são aplicados nas áreas onde os específicos efeitos negativos ocorreram ou são
previstos. Cada tipo de evento negativo tem, para cada área
geográfica, uma probabilidade de ocorrência (em cada período de
tempo adequado para o evento) e uma ou mais soluções.
As
áreas de ocorrência de um evento negativo, requerendo ações de
prevenção e de reparação, podem estar restritas a área interna a
uma unidade produtiva e podem ter na unidade produtiva os recursos
para as ações requeridas. Podem ser internas a um município e pode
ele ter os meios para prevenção e reparação. Podem ser restritas
a um estado e pode ele resolver com seus meios o que seja necessário.
Podem ser internas a uma nação e ela ser autosuficente para as
ações necessárias. Mas, há situações em que a área onde se dá
o evento negativo extrapola os limites de fazendas, municípios,
estados, nações. Com maior frequência ainda os recursos para as
intervenções necessárias extrapolam os disponíveis pelos agentes
a quem confere a reação relativa a eventos negativos de origem
climática. Basta olhar para eventos como os incêndios florestais na
Rússia, nos verões de 2010
e 2011,
tão extensos foram que se refletiram nos indicadores da produção
agropecuária russa; como o incêndio florestal do Chile em 2017, o
maior já ocorrido no país, the
“greatest
forest disaster”,
para combater o qual houve ajuda de países vizinhos
latinoamericanos. Enchentes provocados por chuvas monumentais
romperam com os registros
históricos no Perú, neste ano de 2017. A ajuda internacional,
de países vizinhos, foi acionada e colaborou com o suprimento de
alimentos e água a populações que tiveram o acesso cortado pela
destruição de pontes e de estradas. Em deslizamentos de terra na
Colombia, provocados pela continuidade de precipitações
“hsitóricas” ainda neste 2017, morreram
mais de duas centenas de pessoas. Seria interessante uma imediata
ajuda internacional de especialistas em remoção de material para
salvamento de soterrados. Cada hora passada conta muito contra a
probabilidade de encontrar soterrados com vida e é muito pouco
provável que haja competência em remoção em quantitades
suficiente em cada estado ou mesmo nação de pequeno porte. A
estruturação de capacidade de disparar imediata ajuda internacional
é uma medida de Adaptação a tempos onde tais eventos catastróficos
tendem a se repetir com maior frequência do que nos registros
históricos. Isto caberia a associações de nações, como a UNASUL,
a OEA, a ONU.
A
Adaptação envolve diferentes medidas e ações, desde da ordem de
estabelecimento de políticas públicas nacionais, estaduais e
municipais, políticas corporativas, como da ordem dos diversos
ângulos e aspectos de execução dessas políticas. Pode-se destacar
nas áreas urbanas as questões de deslizamento de terras inclinadas;
de áreas alagáveis com política de uso urbano que reduz os
prejuízos, de sistema de drenagem adequado às precipitações
extremas, rotas de fugas para aprisionados nas enchentes repentinas;
de temperatura e sua relação com meios para evitar altos níveis de
ilhas de calor. Pode-se relacionar nas áreas rurais o zoneamento
orientando a distribuição geográfica da produção, o sistema de
informação climática permitindo as mais rápidas possíveis
intervenções dos agricultores, o sistema de pesquisa agropecuária
desenvolvendo cultivares mais adequados aos novos climas, assim como
novos sistemas de produção e de manejo de culturas e de manejo de
solo e água. Sistemas de apoio a inovações sociais dirigidas à
Adaptação podem concorrer para eficiente difusão de tecnologias
agrícolas.Em muitos casos inovações sociais são imprescindíveis para a difusão de inovações tecnológicas.
As
dimensões da Adaptação crescem quando o estabelecimento de
condições favoráveis à formulação de ações de prevenção e
reparação de efeitos nocivos do Aquecimento Global são adicionados
a ações de Adaptação no sentido restrito. Entre o estabelecimento
de condições favoráveis está o avanço na qualidade da educação
populacional. Quanto mais elevado o nível da educação populacional
mais alta a capacidade de apreender o conteúdo de informes técnicos
e mais rápido e mais completo o domínio de inovações, quer
tecnológicas, quer sociais, tais como as inovações voltadas à
Adaptação ao Aquecimento Global. E a educação populacional, em
seu ângulo de qualidade, envolve todos os municípios, estados e o
próprio governo central de cada país.
O
processo de Adaptação às Mudanças Climáticas abrange os mais
variados aspectos da vida socioeconomica das nações. Não se deve
esperar que seja liderado por empresas privadas, que visam o lucro
numa dimensão de tempo mais curto do que o das ocorrências, que
abrangem extensões mais longas. Deve ser coordenado entre os
diversos governos e entre os diversos agentes públicos. É um
processo complexo. É difícil que seja levado em conta a contento,
pelo menos no atual estágio dos seus efeitos, principalmente por se
referir a um fenômeno a que o Homem nunca foi antes exposto e que
torna de pouco valor preditivo as probabilidades de eventos geradas
pelas séries históricas existentes, não havendo experiência
acumulada sobre eles. A situação de se estar frente a algo
inteiramente novo para a humanidade leva a Adaptação a tender ser
mais difícil. Um dos componentes da dificuldade se encontra
praticamente irremovível nas democracias, da natural sucessão de
radicalmente opostos pontos de vista de governantes sobre o
Aquecimento Global e suas decorrentes Mudanças Climáticas, ou seja,
sobre as causas das necessidades de Adaptação.
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