O semiárido do nordeste brasileiro corresponde a 10% da área do Brasil. É equivalente à área terrestre do Paquistão. Apesar de pouco pródigo para a sustentabilidade humana, esse semiárido tem densidade populacional
35% maior do que a média nacional. A população excede o suporte que a área pode lhe dar. Tem perspectiva de ir se tornando mais árido com o caminhar do processo das mudanças climáticas. Uma perspectiva, portanto, de só poder dar suporte a uma ainda menor população.
Nesta imensa região o consumo das frutas
nativas é associado aos penosos longos
períodos de estiagem, quando
se tornam uma das poucas alternativas
alimentares disponíveis.
São reais testemunhas da fome as frutas nativas do semiárido.
O consumo das frutas nativas, como as do cardeiro (Cereus jamacaru), do xique-xique
(Pilosocereus gounellei) e da cumbeba
(Opuntia inamoena) simboliza
uma situação de
extrema penúria, agravada pelo fato das
plantas nativas também serem empregadas como fontes de alimentação animal.
A percepção depreciativa socialmente construída em torno do uso alimentício dessas plantas é agravada
ainda mais
pelos programas governamentais de ajuda humanitária que sempre atuaram em
momentos de crise alimentar no semi-árido distribuindo cestas
básicas compostas por produtos vindos do Sul
do país. Esses programas, portanto, além de não enfrentarem de forma estrutural
as causas que conduzem à vulnerabilidade alimentar na região, induzem o
desenvolvimento de um padrão de consumo baseado em
alimentos que não são produzíveis localmente de forma minimamente eficiente. Tal processo leva a uma gradativa perda do valor socialmente atribuído
dos conhecimentos associados à vegetação do semiárido e, por consequência a uma gradativa perda desses próprios conhecimentos, em particular do potencial alimentício de suas
espécies frutíferas. Em parte por isto, que reduz a níveis desprezíveis o valor econômico destas espécies, a menos de episódios isolados de atenção científico-tecnológica, estas plantas não são objeto de estudo sistemático orientando seus usos, nem seus cultivos.
A participação cidadã, por meio de grupos de pessoas e de entidades, que a internet abre margem com as redes que vão se instalando começa a mudar este quadro tão desfavorável ao semiárido. O semiárido começa, por meio destes grupos e da pressão que exercem sobre os governos, a receber um tratamento mais próprio às mudanças estruturais necessárias ao enfrentamento das mudanças climáticas.
A participação cidadã, por meio de grupos de pessoas e de entidades, que a internet abre margem com as redes que vão se instalando começa a mudar este quadro tão desfavorável ao semiárido. O semiárido começa, por meio destes grupos e da pressão que exercem sobre os governos, a receber um tratamento mais próprio às mudanças estruturais necessárias ao enfrentamento das mudanças climáticas.
Com exemplo da participação cidadã na direção destas mudanças, um grupo de agricultores, agricultoras e lideranças do Pólo Sindical e das Organizações da Agricultura Familiar da Borborema realizou um diagnóstico, Assessorado pela AS-PTA e pela Associação de Plantas do Nordeste (APNE), a fim de resgatar e valorizar o conhecimento sobre o uso das frutas nativas. na alimentação das famílias, bem como identificar técnicas e estratégias de manejo, beneficiamento e comercialização de frutas ainda presentes no cotidiano das comunidades.
Um resultado deste esforço está publicado em Frutas nativas do semiárido: de testemunhos da fome a iguarias na mesa.
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