quarta-feira, 12 de novembro de 2014

Convivência com a seca: Adaptação às Mudanças Climáticas


Diferentes efeitos do Aquecimento Global atingem de forma heterogênea as distintas regiões do planeta, principalmente conforme suas diversas latitudes. Ao tratar da Adaptação ao Aquecimento Global devem-se levar em conta as diferentes posições das regiões face aos efeitos. É central se observar que aumentar a temperatura onde, por ser atualmente baixa, se tem baixa produtividade agrícola, significa aumentar essa produtividade. É o caso do Canadá que, pelo aumento da temperatura (ENVIRONMENT, 2012) e pelo aumento da precipitação (STATISTICS, 2012), tende a passar de um país escassamente agrícola, a ser um celeiro mundial. Isto simplesmente adotando as tecnologias já disponíveis para terras atualmente mais quentes do que as dele, ou fazendo adaptações marginais para adequação a solos, novos climas e outras questões locais. Já as regiões equatoriais, que têm as temperaturas mais altas, já adota práticas culturais adequadas às suas atuais situações e ao ter aumentadas as suas temperaturas, não têm de onde obter facilmente mudas advindas de regiões onde reinem temperaturas mais altas, que passarão a ter, pois já têm as mais altas que a natureza conhece, além dos novos climas mais áridos que, também, careceriam de réplicas externas já instaladas.
Já trabalhando nos limites máximos para os cultivos e criações que nelas veem empreendidos, têm os países equatoriais que prover adaptação intensiva de natureza tal que possam continuar a ter como agricultáveis, parcelas de suas atuais áreas dedicadas a atividades agropecuárias que venham a se tornar inadequadas a seus cultivos tradicionais. Trata-se de uma mudança da afirmação consagrada de que

é preciso haver uma continuada disponibilidade de novas tecnologias mais produtivas, que permitam sempre haver aumento do produto per capita. Ou seja, não basta difundir uma tecnologia mais produtiva. É preciso sempre haver novas tecnologias mais produtivas a difundir,

para outra bem diferente, posta logo adiante no mesmo texto (DIAS, 2007, p.160):

No presente, entretanto, com o atual nível de desenvolvimento das forças produtivas e de interferência antrópica no equilíbrio da natureza, a ausência de Inovação levaria, dentro de certo tempo, a irremediável retrocesso dos níveis de desenvolvimento já alcançados.

As regiões equatoriais, se não forem providas de novas tecnologias que representem Adaptação ao Aquecimento Global, irremediavelmente, sofrerão retrocesso do setor agropecuário, aquele mais sensível aos efeitos negativos. Assim, estas regiões terminarão por sucumbir a um processo geral de retrocesso, especificamente a agricultura do Semiárido que é claudicante por dois motivos atuais, os quais remontam a milênios: alta temperatura e longas sessões de baixa umidade edáfica decorrentes de falta de temporalmente adequadas precipitações.
Em relação à temperatura, sabe-se que está aumentando. O resultado do aumento de temperatura que já é máxima (por ser a área objeto de atenção do projeto a região equatorial) é extrapolar a adaptação que a própria natureza proporcionou (no modo seleção natural darwiniana) e não pode, no historicamente acelerado processo de avanço das temperaturas, dar conta da adaptação pelos próprios meios naturais.
A umidade do solo é outro fator importante. É crucial para a produção agrícola. Na agricultura de sequeiro, a qual é o modo típico na produção de cereais, que representam a base alimentar da maioria da população mundial, depende a umidade do solo da precipitação e de como a água das chuvas fica à disposição dos cultivos. Ora, sabe-se que as precipitações previstas, a serem trazidas pelo Aquecimento Global, são mais concentradas, o que obviamente, como consequência lógica significa mais extensas e mais intensas sessões de secas. Contrariam a capacidade de produção da agricultura de sequeiro. Como esperado resultado para esta mudança, na África, por exemplo, onde, por tradição e por falta de recurso, impera a produção agrícola de sequeiro, “in some countries, yields from rain-fed agriculture could be reduced by up to 50% by 2020” (IPCC, 2007).
A mudança na distribuição da precipitação pluvial (temporal e espacial) ocasiona ainda mais forte dependência de pesquisa agropecuária. Parte das áreas cultivadas estará exposta a períodos mais prolongados de seca. Parte das áreas cultiváveis sofrerá sessões de maior umidade, mesmo com as precipitações temporalmente mais concentradas. Parte estará exposta a uma distribuição de precipitação pluvial que combina menor umidade edáfica média com maior precipitação média e temporalmente mais concentrada. Esta parte ainda permite, por sua vez, uma outra partição: as áreas que não sofrerão acúmulo de água, para as quais os novos cultivares devem não só tolerar temperaturas mais elevadas como apresentar maior resistência a stress hídrico e aquelas que serão objeto de inundações, para as quais os novos cultivares devem ainda ser devidamente resistentes a sessões de excesso de umidade edáfica.
A incerteza sobre o comportamento das precipitações traz ser necessário um melhor aproveitamento das águas acumuladas, para o que se deve procurar desenvolver técnicas de irrigação bem mais eficientes do que as atuais, nas quais os vegetais aproveitam apenas 10 a 30% da água que lhes é suprida (AWMACK; SMITH; PINTER JUNIOR, 2000).
A adaptação às mudanças climáticas impostas pelo Aquecimento Global deve se constituir em componente chave dos programas de desenvolvimento sustentável. As soluções de adaptação, por seu turno, tenderão a ter menor custo para os usuários e serão tão mais facilmente assimiladas e empregadas quando estes assimilarem da melhor forma possível o conhecimento e práticas produtivas atualmente em uso e quando permitirem a tradução de resultados científicos em informação aplicável à produção (IGES, 2007, p.4). Para melhor racionalização dos recursos, registre-se, as medidas de adaptação, locais que sejam, clamam por uma coordenação nacional.

AWMACK, C. S.; SMITH, P.; PINTER JUNIOR, P. J. Global Change and the Challanges for Agriculture and Forestry. Journal of Agricultural Science, Cambridge, v. 135, n. 2, p. 199-201, 2000.

De:
DIAS, Adriano; MEDEIROS, Carolina 
(Consultores:  MELO,  Lúcia; SUASSUNA, João; TÁVORA, Luciana; WANDERLEY, Múcio)
Convivência com a Seca e Adaptação - realidade e pesquisa

Relatório Parcial da Pesquisa  Adaptação ao Aquecimento Global:
uma visão sobre a pesquisa agropecuária no Norte/Nordeste
Fundação Joaquim Nabuco - Fundaj/Coordenação de Estudos em Ciência e Tecnologia - CECT  www.fundaj.gov.br.    Recife, 2014



Nenhum comentário:

Postar um comentário