Diferentes efeitos do Aquecimento
Global atingem de forma heterogênea as distintas regiões do
planeta, principalmente conforme suas diversas latitudes. Ao tratar
da Adaptação ao Aquecimento Global devem-se levar em conta as
diferentes posições das regiões face aos efeitos. É central se
observar que aumentar a temperatura onde, por ser atualmente baixa,
se tem baixa produtividade agrícola, significa aumentar essa
produtividade. É o caso do Canadá que, pelo aumento da temperatura
(ENVIRONMENT,
2012) e pelo
aumento da precipitação (STATISTICS,
2012), tende a
passar de um país escassamente agrícola, a ser um celeiro mundial.
Isto simplesmente adotando as tecnologias já disponíveis para
terras atualmente mais quentes do que as dele, ou fazendo adaptações
marginais para adequação a solos, novos climas e outras questões
locais. Já as regiões equatoriais, que têm as temperaturas mais
altas, já adota práticas culturais adequadas às suas atuais situações e ao ter aumentadas as suas temperaturas, não têm de onde obter facilmente mudas
advindas de regiões onde reinem temperaturas mais altas, que
passarão a ter, pois já têm as mais altas que a natureza conhece,
além dos novos climas mais áridos que, também, careceriam de
réplicas externas já instaladas.
Já trabalhando nos limites máximos
para os cultivos e criações que nelas veem empreendidos, têm os
países equatoriais que prover adaptação intensiva de natureza
tal que possam continuar
a ter como agricultáveis, parcelas de suas atuais áreas dedicadas a
atividades agropecuárias que venham a se tornar inadequadas a seus
cultivos tradicionais. Trata-se
de uma mudança da afirmação consagrada de que
é
preciso haver uma continuada disponibilidade de novas tecnologias
mais produtivas, que permitam sempre haver aumento do produto per
capita.
Ou seja, não basta difundir uma tecnologia mais produtiva. É
preciso sempre haver novas tecnologias mais produtivas a difundir,
No
presente, entretanto, com o atual nível de desenvolvimento das
forças produtivas e de interferência antrópica no equilíbrio da
natureza, a ausência de Inovação levaria, dentro de certo tempo, a
irremediável retrocesso dos níveis de desenvolvimento já
alcançados.
As regiões equatoriais, se não forem
providas de novas tecnologias que representem Adaptação ao
Aquecimento Global, irremediavelmente, sofrerão retrocesso do setor
agropecuário, aquele mais sensível aos efeitos negativos. Assim,
estas regiões terminarão por sucumbir a um processo geral de
retrocesso, especificamente a agricultura do Semiárido que é
claudicante por dois motivos atuais, os quais remontam a milênios:
alta temperatura e longas sessões de baixa umidade edáfica
decorrentes de falta de temporalmente adequadas precipitações.
Em relação à temperatura, sabe-se
que está aumentando. O resultado do aumento de temperatura que já é
máxima (por ser a área objeto de atenção do projeto a
região equatorial) é
extrapolar a adaptação que a própria natureza proporcionou (no
modo seleção natural darwiniana) e não pode, no historicamente
acelerado processo de avanço das temperaturas, dar conta da
adaptação pelos próprios meios naturais.
A umidade do solo é outro fator
importante. É crucial para a produção agrícola. Na agricultura de
sequeiro, a qual é o modo típico na produção de cereais, que
representam a base alimentar da maioria da população mundial,
depende a umidade do solo da precipitação e de como a água das
chuvas fica à disposição dos cultivos. Ora, sabe-se que as
precipitações previstas, a serem trazidas pelo Aquecimento Global,
são mais concentradas, o que obviamente, como consequência lógica
significa mais extensas e mais intensas sessões de secas. Contrariam
a capacidade de produção da agricultura de sequeiro. Como esperado
resultado para esta mudança, na África, por exemplo, onde, por
tradição e por falta de recurso, impera a produção agrícola de
sequeiro, “in some countries, yields from rain-fed agriculture
could be reduced by up to 50% by 2020” (IPCC,
2007).
A
mudança na distribuição da precipitação pluvial (temporal e
espacial) ocasiona ainda mais forte dependência de pesquisa
agropecuária. Parte das áreas cultivadas estará exposta a períodos
mais prolongados de seca. Parte das áreas cultiváveis sofrerá
sessões de maior umidade, mesmo com as precipitações temporalmente
mais concentradas. Parte estará exposta a uma distribuição de
precipitação pluvial que combina menor umidade edáfica média com
maior precipitação média e temporalmente mais concentrada. Esta
parte ainda permite, por sua vez, uma outra partição: as áreas que
não sofrerão acúmulo de água, para as quais os novos cultivares
devem não só tolerar temperaturas mais elevadas como apresentar
maior resistência a stress
hídrico e aquelas que
serão objeto de inundações, para as quais os novos cultivares
devem ainda ser devidamente resistentes a sessões de excesso de
umidade edáfica.
A incerteza
sobre o comportamento das precipitações traz ser necessário um
melhor aproveitamento das águas acumuladas, para o que se deve
procurar desenvolver técnicas de irrigação bem mais eficientes do
que as atuais, nas quais os vegetais aproveitam apenas 10 a 30% da
água que lhes é suprida (AWMACK; SMITH; PINTER JUNIOR, 2000).
A adaptação às mudanças climáticas
impostas pelo Aquecimento Global deve se constituir em componente
chave dos programas de desenvolvimento sustentável. As soluções de
adaptação, por seu turno, tenderão a ter menor custo para os
usuários e serão tão mais facilmente assimiladas e empregadas
quando estes assimilarem da melhor forma possível o conhecimento e
práticas produtivas atualmente em uso e quando permitirem a tradução
de resultados científicos em informação aplicável à produção
(IGES,
2007, p.4). Para
melhor racionalização dos recursos, registre-se, as medidas de adaptação,
locais que sejam, clamam por uma coordenação nacional.
AWMACK,
C. S.; SMITH, P.; PINTER JUNIOR, P. J. Global Change and the
Challanges
for Agriculture and Forestry. Journal
of Agricultural Science,
Cambridge, v. 135, n. 2, p. 199-201, 2000.
De:
DIAS, Adriano; MEDEIROS, Carolina
(Consultores:
MELO,
Lúcia;
SUASSUNA,
João; TÁVORA, Luciana; WANDERLEY, Múcio)
Convivência
com a Seca e Adaptação - realidade
e pesquisa
Relatório
Parcial da Pesquisa Adaptação
ao Aquecimento Global:
uma
visão sobre a pesquisa agropecuária no Norte/Nordeste
Fundação
Joaquim Nabuco - Fundaj/Coordenação de Estudos em Ciência e Tecnologia - CECT www.fundaj.gov.br. Recife,
2014
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