Na questão das mudanças climáticas
o Brasil não se põe de lado. Entende
que há um forte desafio e se inicia em enfrentá-lo. Embora vá
caminhando lentamente, não está parado. Os anos 2006-2009 mostram
bem a disposição brasileira em termos de direcionamento e de volume
de recursos. Já em 2006 a gigante Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária - Embrapa dava um passo nessa direção. Em
seu último concurso realizado nesse ano a instituição abriu 14
vagas para a área de Mudanças Climáticas, distribuídas em 13 de
suas unidades (MORENO,
2007), dentre as dezenas que se encontram espalhadas no território
nacional (EMBRAPA,
2012a; EMBRAPA,
2012b).
Em 2007 foi criada pelo MCTI a Rede
Brasileira de Pesquisas sobre Mudanças Climáticas Globais, a
Rede Clima (MCTI,
2007),
sediada no Instituto
Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE),
com o objetivo de acompanhar e contribuir na formulação de
políticas públicas relativas às mudanças climáticas globais no
Brasil, estudando também alternativas de adaptação social,
econômica e natural frente a tais mudanças. A primeira reunião
significativemente ocorreu em plena amazônia, no Museu Paraense
Emilio Goeldi, centro de pesquisa sobre os sistemas naturais e
socioculturais da região Norte (BARROS,
2011),
traduzindo a importância que a Rede Clima concede ao objeto de
pesquisa do museu. Significativo, também, do passo das ações,
foram os quatro anos que decorreram da fundação da rede à primeira
reunião de seus membros.
Em 2008, é
criada a Plataforma de
Mudanças Climáticas da Embrapa com o intuito de coordenar as
discussões e atividades da empresa relativas ao tema (MORENO,
2008).
As pesquisas que compõem a plataforma
de mudanças climáticas estão estruturadas nas linhas básicas:
cenários futuros, pragas e doenças, sistemas produtivos e adaptação
genética. Além da análise das tendências climáticas atuais e do
monitoramento das mudanças globais, incluem a modelagem matemática
dos sistemas produtivos e a simulação de cenários, com base nas
informações do IPCC. As pesquisas também visam a proposição e
análise de medidas de mitigação, que envolvam boas práticas
agrícolas e mecanismos de desenvolvimento limpo, e medidas de
adaptação de sistemas produtivos e de cultivares (EMBRAPA
INFORMÁTICA AGROPECUÁRIA, 2008).
Em 2009 vê-se criado pela Lei
n° 12.114/2009
e regulamentado pelo Decreto
n° 7.343/2010 o
Fundo Nacional sobre Mudança do Clima (Fundo Clima), um instrumento
da Política Nacional sobre Mudança do Clima (PNMC), a qual, por sua
vez foi instituída pela Lei
n° 12.187/2009.
Tem por finalidade financiar projetos, estudos e empreendimentos que
visem à mitigação da mudança do clima e à adaptação a seus
efeitos.
O Fundo Clima tem o tom de suas ações
dado pela sua vinculação ao Ministério do Meio Ambiente (MMA).
Disponibiliza recursos reembolsáveis, administrados pelo Banco
Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), e
não-reembolsáveis, operados pelo próprio MMA. O fundo contou para
financiamento de projetos, no orçamento de 2011, com 294 milhões de
reais, 88,6% em recursos reembolsáveis e 12,4% em recursos não
reembolsáveis (FUNDO,2011a). Como não há
movimento percebível na direção de empreendimentos comerciais com
a marca da adaptação às mudanças climáticas como foco, os
recursos reembolsáveis podem ser, a princípio, computados como
relativos primordialmente à mitigação. As pesquisas, por sua vez,
têm os recursos não reembolsáveis como a grande fonte de
financiamento. São colocados nesta rubrica levantamentos feitos para
avaliar vulnerabilidades, principalmente relativas a questões
urbanas. É normal que uma certa parte fique disponível para
projetos de pesquisa agropecuária. A maior parte destes, para
projetos de mitigação, centrados em sistemas produtivos menos
emissores dos agentes de aquecimento global, metano e/ou dióxido de
carbono. Restam os recursos aplicáveis em projetos de pesquisa
predominantemente voltados
para a adaptação às
mudanças climáticas. E destes, uma fração para adaptação na
grande região equatorial do Brasil.
A informação exposta na página do
Fundo Clima não permite visualizar a natureza dos projetos
contratados em 2011, porquanto informa apenas as instituições que
recebem os recursos e seus valores, que totalizaram 30,3 milhões de
reais (FUNDO,
2011b).
Já em 2012 se vê o avançar na
direção de ações explicitamente voltadas para a Adaptação ao
Aquecimento Global, o Fundo Clima brasileiro beneficiando 14
municípios da bacia do rio Jacuípe (TOLENTINO,
2012), por meio
de financiamento de projeto da Adapta
Sertão (2012).
O rio nasce a cerca de 300 km a noroeste de Salvador, no sertão
baiano. Suas águas percorrem 427 km até passarem a ser águas do
rio Paraguaçú e, assim, chegarem à Baía de Todos os Santos. A
geografia, tendo formado a Chapada dos Guimarães, permite a
existência deste Jacuípe,
alimentado por águas subterrâneas e de reservatórios, na longa
estação seca, caudaloso, perene, atravessando o leste e meio norte
do semiárido baiano, tendo afluentes temporários, como tipicamente
são os rios do sertão (FONTES
et al., 2011).
A rede Adapta Sertão articula o
poder municipal, instituições públicas, privadas e do terceiro
setor visando integrar recursos técnicos, científicos e humanos
para ajudar o(a) pequeno(a) e médio(a) agricultor(a) a se adaptar à
mudança climática trazida pelo Aquecimento Global, que já vem se
abatendo sobre o semiárido brasileiro. Preparando a população para
enfrentar os efeitos negativos das mudanças climáticas, emprega
metodologia de atuação baseada na implementação de tecnologia
social que agrega tecnologias adequadas, micro-financiamentos,
capacitação técnica e administrativa, bem como favorece acesso aos
mercados.
São, por ora, 14 dos 417 municípios
baianos, entre os mais de um milhão de quilómetros quadrados do
semiárido brasileiro, formando, ao todo, um verdadeiro desafio
ciclópico preparar o Homem para continuar a ocupar este polígono,
para que assim povoado
continue gerações e
gerações adiante. Representa o apoio à Adapta Sertão um início
de ação explicitamente dirigida à Adaptação ao Aquecimento
Global.
Pequena que seja esta fração inicial
de recursos destinados diretamente à Adaptação ao Aquecimento
Global, deve ser uma questão estratégica a ser considerada com
firmeza. Elevá-la nonotonicamente até atingir um valor compatível
com a necessidade de gerar conhecimento produtivo adaptado às
mudanças climáticas e difundí-lo, e torná-lo inovação, e
difundí-la num ritmo compatível com o necessário a evitar a
formação de minis saharas no Brasil equatorial. É fundamental para um Brasil que tem grande parte do seu território na região equatorial (acima de 15° de latitude Sul) e atualmente tem na exportação de produtos agropecuários o ponto forte de sua pauta de exportação (como era antes do processo de industralização do século passado).
De:
DIAS, Adriano; MEDEIROS, Carolina
(Consultores:
MELO,
Lúcia;
SUASSUNA,
João; TÁVORA, Luciana; WANDERLEY, Múcio)
Convivência
com a Seca e Adaptação - realidade
e pesquisa
Relatório
Parcial da Pesquisa Adaptação
ao Aquecimento Global:
uma
visão sobre a pesquisa agropecuária no Norte/Nordeste
Coordenação de Estudos em Ciência e Tecnologia - CECT/Fundação
Joaquim Nabuco www.fundaj.gov.br. Recife,
2014
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