A histórica ligação dos países de língua portuguesa com Portugal, que lhes deu
origem como nações modernas, faz interessante ouvir o que este tem a
dizer sobre Adaptação ao Aquecimento Global, pois a base de
formação do pensamento destes povos tem ponderável relação com o
pensamento português. Situado acima de 36 graus de latitude norte,
acima, portanto, do Trópico de Câncer, Portugal passa a ir tendo
temperaturas médias mais favoráveis à agricultura ao longo do
processo de Aquecimento Global (SANTOS;
FORBES; MOITA, R., 2001). Mas a temperatura é só um componente do
clima, nem sempre o mais importante.
Merece passar uma vista d'olhos na
argumentação do Comité
Executivo da Comissão para as Alterações Climáticas (CECAC),
(Governo de Portugal, 2011) sobre a questão da Adaptação: “Porquê
Adaptar? - Começar já a pensar em Adaptação às Acs”.
Como a Espanha, Portugal está posto abaixo dos Pirineus, cadeia de
montanhas que estabelece uma descontinuidade na distribuição dos
efeitos do Aquecimento Global, desviando ao Sul parte dos efeitos que
seriam sentidos ao Norte. Estando no lado Oeste da península
Ibérica, Portugal os tem amainados, em relação à média
espanhola. Nem por isto os tem desprezíveis. São suficientes para
que Portugal tome nota deles.
Em primeiro lugar, no documento
português especificamente referente à Adaptação, a atenção é
chamada para a inevitabilidade do Aquecimento Global e seus efeitos.
O Aquecimento Global é reconhecido como inevitável devido aos gases
de efeito de estufa já presentes na atmosfera, adicionais,
entenda-se, aos níveis que estabeleceram os parâmetros de
temperatura anteriores ao Aquecimento e, daí decorrentes, os
parâmetros climáticos previamente prevalecentes. Os efeitos desse
aquecimento já se fazem sentir no país e este é um processo que
irremediavelmente irá continuar no horizonte atualmente discernível.
Em segundo lugar, é visto, e é
importante que o documento registre e destaque,
já
não ser apropriado tomar decisões com base no clima histórico.
Os critérios utilizados
nos processos de decisão que envolvem clima foram desenvolvidos com
base na experiência com os climas de décadas passadas. Estes
critérios influenciam decisões que vão desde o dimensionamento de
estruturas de proteção costeira ou contra cheias até à seleção
de culturas agrícolas adequadas a cada região. Climas diferentes do
então predominante podem tornar muitos desses critérios
desadequados.
Em terceiro, é chamada a atenção a
que a
Adaptação
planejada é mais eficaz e mais eficiente do que a Adaptação
reativa, ou seja, a tomada de medidas reativas em situações de
emergência, ou simplesmente depois de instalados os desastres.
Muitos dos impactos previsíveis da mudança dos climas serão
expressos por uma provável maior frequência e intensidade de
eventos meteorológicos extremos, como ondas de calor, incêndios
descontrolados, secas extremas, e cheias recordes. São eventos, pela
sua natureza, difíceis de prever. Não estar preparado - reduzindo
exposição a riscos e/ou aumentando a capacidade de resposta aos
eventos - poderá resultar em graves perdas de bens materiais e
naturais, em descontinuação temporária de serviços públicos
essenciais (água, saneamento, transporte e eletricidade), ou até,
também, em desenvolvimento de novos problemas de saúde pública e
em perda de vidas.
Em
seguida registra que, de forma crescente Governos, Seguradoras e
Investidores vão exigir serem os riscos climáticos considerados nos
processos de decisão.
Mesmo que hoje se considere
a exposição de um determinado setor ou empresa a riscos climáticos
não ser significativa, a ponto de desprezá-la, tal prática não
terá continuidade com o crescente peso dos efeitos do Aquecimento
Global. Ou será desastrosa se continuidade tiver. Será necessário
responder de forma estruturada a questões de entidades públicas ou
financeiras. Em muitos setores já é prática corrente a
implementação de programas de minimização de todos os riscos
conhecidos. As alterações climáticas são hoje um risco que não
pode ser desconhecido e, deve, assim, ser incorporado nesses
processos.
Finalmente
é arguido que a Adaptação pode proporcionar benefícios locais
imediatos.
Decorrem da implementação
de medidas de adaptação que aumentem a aptidão para viver e
trabalhar com a maior variabilidade climática e seus eventos
extremos. Não adaptar, pelo contrário, pode resultar em perda de
oportunidades e, por consequência, de receitas que advenham de
mudanças de preferências dos consumidores e de mudanças nos
mercados.
De:
DIAS, Adriano; MEDEIROS, Carolina (Consultores:
MELO,
Lúcia;
SUASSUNA,
João; TÁVORA, Luciana; WANDERLEY, Múcio)
Convivência
com a Seca e Adaptação - realidade
e pesquisa
Relatório
Parcial da Pesquisa
Adaptação
ao Aquecimento Global:
uma
visão sobre a pesquisa agropecuária no Norte/Nordeste
Coordenação de Estudos em Ciência e Tecnologia - CGCT
Fundação
Joaquim Nabuco www.fundaj.gov.br
Recife,
2014
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