O campo da agropecuária face ao
Aquecimento Global se pronuncia por mudanças climáticas
constituídas, principalmente, segundo previsões dos órgãos
brasileiros capacitados para tal, onde se destaca o INPE, não só
por aumentos de temperaturas, como também, por mudanças nas frequências
temporais e de distribuições geográficas das precipitações. No
Nordeste, o mais populoso semiárido em termos mundiais, as mudanças intensificam um quadro de má distribuição
das precipitações médias que mantém esta região semiárida, onde
cada gleba tem sempre a enfrentar um significativo risco de
insuficiente chuva. No oeste, na Amazônia brasileira, o leste deve
ver nele se instalando um clima hoje predominante no Nordeste,
todavia ainda mais quente. É claro que, nestas circunstâncias, de
intensificação da seca, intensificar as ações de convivência com
a seca representa uma forma de Adaptação ao Aquecimento Global,
reduzindo o efeito negativo do maior empecilho
a um desenvolvimento sustentável para a região semiárida.
A análise das
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das instituições que fazem pesquisa agropecuária no Norte/Nordeste
brasileiros permite concluir que há
sistemático trabalho de ampliação do conhecimento capaz de conduzir a
uma convivência racional com os padrões climáticos do semiárido. Todavia, este trabalho
sistemático é realizado por um, dadas as intensas e extensas necessidades dessas duas regiões, pequeno número de centros de pesquisa. É trabalho que vem se desenvolvendo desde algumas décadas, e resulta num acervo de conhecimento
que apoia, principalmente, a produção irrigada. Não deixa
inteiramente a descoberto a produção de sequeiro do semiárido do Nordeste, a qual é exposta aos
rigores e incertezas do clima. Essa produção de sequeiro se dá numa área semiárida, muitas
vezes maior do que as escassas águas permitem irrigar, com população também várias vezes maior.
São quatro centros da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária - Embrapa, o Instituto Agronômico de Pernambuco - IPA e, em menor escala, as universidades rurais
das regiões, bem como as que detêm centros agrários, somados ao
recém-criado instituto de pesquisa especificamente voltado para o
semiárido, o Instituto Nacional do Semiárido - NSA, que realizam pesquisas para a agropecuária no
semiárido. Mas a sociedade não tem feito o conhecimento já
desenvolvido ser expeditamente aplicado no mundo real. Embora venha de décadas
o desenvolvimento deste conhecimento, de forma codificada, vem de
longe o desprezo por ele.
Um exemplo disto
está nos ensinamentos de José Guimarães Duque, sobre a estratégia
de centrar a exploração econômica das terras agricultáveis da
região semiárida aproveitando os pontos fortes dessa grande região
semiárida brasileira, que nunca foram devidamente adotados (Como exemplo de sua obras: O Nordeste e as lavouras xerófilas). A
exploração das atividades agropastoris continuou, a grosso modo,
ignorando as características de alta evaporação e
evapotranspiração que a alta radiação solar, combinada com os
ventos alísios, conferem às superfícies de água e à vegetação
da região, oferecendo risco de salinização às atividades de
irrigação, onde e quando a água para tal não falta. E oferecendo,
quando se tenta imitar a agropecuária de outras regiões, riscos
elevados de quebra de safra, bem acima das outras áreas
agricultáveis no Brasil, não só por causa das secas, que incidem
sobre cada pedaço de terra como uma variável aleatória, reduzindo
significativamente a produtividade média, comparada com outras áreas
brasileiras, como por causa de situações de insuficiente umidade
edáfica, em relação à que seria requerida em determinadas fases
do ciclo de crescimento de alguns vegetais, proporcionando as
chamadas “secas verdes”, não menos prejudiciais do que as “secas
secas”.
Duas conclusões
resultam da análise da informação anteriormente exposta. A
primeira se refere à relação de intensidade de pesquisa para
Adaptação ao Aquecimento Global ser ou não privilegiada, face à
extensão da agropecuária para a sua convivência com a seca. A
resposta é que a pesquisa voltada à convivência com a seca é
claramente uma pequena parcela da pesquisa agropecuária conduzida na
região. É insuficiente face à necessidade da intensidade de fluxo
de novos conhecimentos capazes de manter a produção agropecuária
no semiárido, que vai tendo seu clima sendo mudado para um mais
áspero.
Na agricultura
já se dispõe de tecnologia para a produção de palma, para
alimentação animal, inexplicavelmente excluída da alimentação
humana; para a produção de grãos, na forma do sorgo, altamente
resistente ao estresse hídrico, também dirigido à alimentação
animal e, também, excluída da alimentação humana; para produção
de frutas e frutos de xerófilas nativas. Na pecuária, para a
produção de proteína animal, quer na forma de leite, quer na de
carne, já se dispõe de ruminantes de grande e de pequeno porte
adequados às condições do semiárido.
A segunda se
refere a que o conhecimento já desenvolvido adequado à convivência
com
o
semiárido sequer é aplicado de forma consistente. Isto se traduz,
na prática, em sinalização, da sociedade às entidades de
pesquisa, da suficiência do volume de pesquisa de Adaptação ao
Aquecimento Global que ora efetuam. Pesquisas em maior volume não se
traduziriam, então, em inovçaão. Quando sim, não são difundidas,
para o que concorre o baixo nível de educação populacional na
região equatorial brasileira. Mas o acordar da sociedade para a
necessidade de adequar o sistema produtivo do semiárido às
condições do semiárido está sendo rápido. Já há dezenas de associações civis empenhadas em fazer avançar a convivência com a seca e o governo vem começando a incorporar esta bandeira. Financiamento para a
convivência com a seca pode se traduzir em financiamento
diferenciado, favorável à exploração de sistemas produtivos que
exploram espécies nativas e lhes dão processamento agroindustrial e
comercialização adequados, fazendo produzir retornos acima das
explorações tornadas
inadequadas pode ser instalado em poucos anos. Mas o aprofundamento
do conhecimento para a exploração das espécies nativas pode
representar décadas de pesquisa, tornando insuficiente o
conhecimento de convivência com a seca ora existente, ao longo da
agudização dos climas. Por outro lado, a própria adição de
oferta de conhecimento para a convivência com a seca facilita o
movimento das forças produtivas no semiárido nesta direção.
Aumentar o presente fluxo de pesquisa para Adaptação ao Aquecimento
Global no semiárido em antecipação à demanda é aconselhável.
Tanto quanto possível deve ser desenvolvido tal conhecimento,
gerando oportunidades de exploração compatíveis com a atual
situação dos mercados.
De:
DIAS, Adriano; MEDEIROS, Carolina
(Consultores:
MELO,
Lúcia;
SUASSUNA,
João; TÁVORA, Luciana; WANDERLEY, Múcio)
Relatório
Parcial da Pesquisa Adaptação
ao Aquecimento Global:
uma
visão sobre a pesquisa agropecuária no Norte/Nordeste
Coordenação de Estudos em Ciência e Tecnologia - CECT/Fundação
Joaquim Nabuco www.fundaj.gov.br. Recife,
2014
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